João Pedro 26/08/2023Verdade, uma ilusãoUm conto escrito por Dostoiévski em 1877 que retrata a viagem onírica de um homem ridículo ? conforme autoproclamado pelo próprio personagem, que já entoa na primeira linha: ?Eu sou um homem ridículo? ? quando pega no sono prestes a se suicidar. Essa historieta potente me pôs muito a pensar.
A escrita sóbria e consistente de Dostoiévski até parece contrastar com a ideia central do enredo: uma viagem alucinante e transcendental que serve como ponto de inflexão na vida do protagonista. Um passeio pelas fendas do tempo-espaço até os primórdios da fundação das eras, por um paraíso isento das corrupções humanas. Talvez seja justamente essa contraposição entre a forma narrativa e o misticismo do conto que reforce a linha tênue entre sonho e realidade.
Achei interessante como o autor tratou sobre o tema da redenção sob um viés fantástico, bem diferente do processo de redenção de Raskólnikov, personagem central de Crime e Castigo. Existe uma forte carga moral religiosa no conto e isso reflete a fase da vida em que Dostoiévski o escreveu.
Para fechar, preciso dizer que as ilustrações de Helena Obersteiner para essa edição da Antofágica conversam com o conto de um jeito único. É perceptível como as imagens mudam de forma e de cores conforme o sonho do protagonista avança. São das minhas ilustrações favoritas da editora até agora.