Léka 07/02/2011
Dairy Queen é literatura YA em sua melhor forma.
Dairy Queen (em português e numa tradução livre, “Rainha dos Laticínios” ou “Rainha do Leite”) é o primeiro livro de uma série de três, composta ainda por The Off Season e Front and Center, respectivamente. Infelizmente, nenhum deles foi publicado no Brasil e, até onde sei, a série ainda não teve seus direitos adquiridos por uma editora nacional. O que, repito, é realmente uma pena.
Já sabia que Dairy Queen havia sido considerado o melhor livro para jovens adultos de 2006, na premiação do respeitadíssimo ALA (America’s Library Association). O que eu não sabia quando este paperback com capa despretensiosa chegou em minhas mãos era que eu estaria lendo um dos livros que entraria para a minha lista de favoritos de todos os tempos.
A estória de Dairy Queen gira, como o resumo acima deixa claro, ao redor de D.J Schwenk, no verão em que ela completa 16 anos. E nossa protagonista não está nada feliz. Para começar, seu pai machucou o quadril e, com seus irmãos mais velhos na universidade e sua mãe em dois empregos, todo o trabalho da fazenda da família sobra para D.J. E não é pouco trabalho. Com isso, D.J mal tem tempo para estudar e está praticamente reprovada em inglês, além de ter que largar os esportes que praticava no colégio por falta de tempo. Como nada é tão ruim que não possa piorar, o treinador do time rival da escola de D.J e grande amigo de seu pai envia o quarterback do time, Brian Nelson, para ajudar D.J com o trabalho da fazenda durante o verão, de modo que ele ganhe condicionamento físico. Mas D.J odeia Brian, que também odeia D.J. E isso inicia um longo verão para ambos, o qual, para desgosto mútuo, eles terão de passar na companhia um do outro.
Bem, chega de resumo e vamos aos fatos: Dairy Queen é um livro, antes de tudo, sobre aprendizado, amadurecimento e auto-conhecimento; sobre descobrir quem você é quem você gostaria de ser. É leve, divertido e com interações impagáveis entre as personagens.
Ao mesmo tempo, a autora soube abordar, de modo realista e sem exageros dramáticos, a dificuldade que temos em nos comunicar uns com os outros (e o impacto que isso pode ter, por exemplo, sobre a estrutura de muitas famílias), bem como questões de gênero (ou "como convenções socias retrógradas e machistas tentam dizer às mulheres o que elas deveriam estar fazendo"). Tudo isso no interior de Wisconsin e com muitas vacas no plano de fundo. Muitas mesmo. E esportes!
Claro, há romance (e dos mais legais, sem gente obsessiva e situações medonhas, como ficar observando o objeto de afeição dormir sem que ele saiba). Mas não é esse o foco principal do livro, não é o que você leva dele.
As personagens são realistas e seu desenvolvimento pode ser notado de modo claro e verossímil ao longo das quase 300 páginas do livro. A protagonista, D.J Schwenk é uma garota comum (mesmo, e não no estilo “sou comum, mas todos me amam e me acham linda”), nem exatamente bonita ou inteligente e com dificuldade em se comunicar, mas muito boa em esportes e que sabe trabalhar duro. Por outro lado, Brian Nelson é um garoto rico, mimado e preguiçoso, mas com boas habilidades de comunicação e que, na verdade, precisa de apenas um empurrão para começar a trabalhar duro. E por serem de certo modo o oposto um do outro, as interações entre ambos rendem as melhores cenas do livro.
Enfim, Dairy Queen é um daqueles livros que você lê numa sentada e termina com um sorriso bobo no rosto. Catherine Murdock escreve maravilhosamente bem e me fez elevar, mais uma vez, meu patamar para os livros do gênero (embora, tecnicamente, YA não seja um gênero, mas enfim).