Bruno 18/02/2022
Aquela que, talvez, tenha sido a obra da vida de Evans-Wentz.
Como citei em resenha no Livro Egípcio, obras como essas, de esoterismo estranho ao ocidente, não fazem sentido ao público sem adequado acompanhamento introdutório e explicativo. Sem ferramentas de contextualização se torna referência acadêmica ou mera curiosidade.
O Livro Tibetano dos Mortos é muito mais que simples tradução do Bardo Thodol. Evans-Wentz expôs em sua obra toda sua vivência no Tibete e seu aprendizado com o Lama Kazi Dawa-Samdup (esse sim, o tradutor do Bardo) em completas notas, introdução e conclusão. O editor era, talvez, a única pessoa no último século capaz de alinhar curriculo científico com estudo de campo suficientes para trazer o Bardo ao ocidente. No mais, qualquer outro catedrático em sua sala universitária ocidental imbuiria a obra com preconceitos e interpretações tangenciais.
O Bardo Thodol, em si, é desinteressante. É uma figura essencialmente ritualística que ilustra a concepção tântrica das coisas. Como ferramenta de estudo do budismo, em especial no cerne da existência e da realidade, é como um quadro que desenha uma das mais antigas (e aí sim, interessantíssimas) doutrinas.
Se a ausência de notas, no livro Egípcio, mereceu críticas, aqui sua presença também merece comentário. No decorrer da tradução em si, notas essencialmente semânticas são exaustivas. Evans-Wentz traz, em média, 5 notas por página com termos traduzidos para o sânscrito, sua pronúncia e, só em seguida, explicações que não acrescentam nada a mais ao texto. A leitura truncada é desafiadora. Ignorar as notas não é uma opção, dado que algumas são essenciais para compreensão figurada do texto.
A introdução, justificadamente longa, explica nuances do texto antes mesmo da sua apresentação. Confuso, poderia ser corrigido como introdução às seções. Há de se respeitar que o editor já não mais vive, e a modificação de sua obra não faria sentido.
Por fim, os comentários introdutórios, especialmente de Carl Jung, não encontram precedentes na literatura exo e esotérica. Uma obra com matriz religiosa com comentários de Jung, por se só, merece ser lida.