judmscen 02/06/2024
"O Cortiço," escrito por Aluísio Azevedo e publicado em 1890, é uma das obras-primas do naturalismo brasileiro. Azevedo utiliza o cortiço como um microcosmo para explorar as complexidades sociais e os instintos humanos, abordando temas como pobreza, exploração, e degradação moral e física.
O enredo centra-se em João Romão, um imigrante português ambicioso que constrói um cortiço para enriquecer. Ao lado dele, desenvolve-se a história de Bertoleza, uma escrava fugida que, sem saber, é mantida como propriedade por João Romão, e Jerônimo, um operário português que, ao se mudar para o cortiço, vê sua vida transformada pela paixão por Rita Baiana.
Azevedo constrói uma narrativa rica e detalhada, expondo a luta pela sobrevivência dos moradores do cortiço. Sua descrição da vida no cortiço é crua e realista, mostrando a influência do meio sobre o comportamento humano, um dos pilares do naturalismo. As personagens são desenhadas de forma a destacar suas motivações primárias e instintos, muitas vezes movidas por desejos básicos e necessidades.
O autor também critica duramente a sociedade da época, expondo a hipocrisia, a corrupção e a exploração dos mais pobres. A trajetória de João Romão, que começa como um imigrante pobre e se torna um próspero capitalista às custas do sofrimento alheio, é um exemplo claro dessa crítica.A linguagem de Azevedo é direta e sem adornos, refletindo o caráter objetivo e científico do naturalismo. Ele não poupa detalhes sórdidos e situações degradantes para pintar um quadro verdadeiro da realidade dos cortiços.
Em suma, "O Cortiço" é uma obra contundente que, além de oferecer uma visão detalhada da vida nas camadas mais pobres da sociedade carioca do final do século XIX, serve como uma poderosa crítica social. Aluísio Azevedo consegue, com maestria, capturar a essência do naturalismo e deixá-la registrada na literatura brasileira, fazendo de "O Cortiço" uma leitura indispensável para entender o contexto social e literário da época.