KatNip0 10/04/2024
Capitães da Areia ?
Li capitães da areia (supreendentemente) em um dia. Mas não se engane, pois foi por obrigação.
A história dos capitães é muito comovente e a maneira que Jorge Amado mistura diversos personagens com características diferentes entre si até que é interessante. Na obra, todos os personagens são multifacetados e complexos: ao mesmo tempo que são cruéis e roubam, anseiam desesperadamente pelo zelo e carinho de alguém.
Capitães da Areia sabe retratar muito bem os mazeles sociais do Brasil, falando como essas crianças não nasceram pré-dispostas ao mal mas sim o ambiente de negligência, abandono e falta de afeto moldaram-nas para se tornarem ladras. Os capitães são sobreviventes. Lutam por comida, para garantir seu futuro diante do abandono governamental: nenhuma autoridade quer responsabilizar-se por eles. Interessante a nuance entre criminosos procurados e crianças que desejam presenciar a magia e serem amadas.
Minhas críticas se reservam à escrita. A história parece desconexa, sem uma trama principal, apenas momentos soltos pelo autor. Percebe-se que a aparição de Dora foi um ponto divisor de águas, mas ao mesmo tempo não tal duradouro para considerar-se a trama principal. Impressionante é a quantidade de vezes que Jorge Amado consegue falar de sexo e suas derivações em apenas um capítulo. Ele parece um tarado, assim como seus personagens que em sua maioria parecem viciados nessas intimidades, sem conseguir se controlar (Pedro Bala).
Acho legal como ao longo da história o autor não declara os capitães como culpados ou não. Diz, inegavelmente, que estes meninos cometem crimes e atitudes de procedência completamente duvidosa, mas, ao mesmo tempo, nos mostra o ponto de vista do
porquê eles são assim e que não devemos culpá-los já que os defeitos de nossa sociedade os ?forçam? à agirem com ódio.
No geral, o livro é bom. Tem seus momentos entediantes, mas também possui os legais. Ótima obra para quem busca crítica social à sociedade e seu desprezo pelos meninos marginalizados, à desigualdade social e à existência de ricos. A falta de uma trama principal e envolvente faz o livro pecar. O final é comovente, principalmente a despedida do querido líder do trapiche, que foi embora sem seus amigos originais, e acabou ?fechando a porta? e/ou ?apagando as luzes?.