Vitoria.Milliole 29/01/2024
A definição antropológica de cultura, de acordo com o dicionário, é o "conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social". Dessa forma, faz sentido que a maioria das versões desse livro utilizem "civilização" no título, no lugar de "cultura". No ensaio, Freud discorre sobre o constante estado de infelicidade do homem e como a cultura ? ou a civilização ? tem culpa nisso. Assim, ele determina três principais fatores que determinam a predominância desse sentimento: a fragilidade do corpo, as forças do mundo externo a nós e as relações interpessoais.
"O sofrimento ameaça de três lados: a partir do próprio corpo, que, destinado à ruína e à dissolução, também não pode prescindir da dor e do medo como sinais de alarme; a partir do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças superiores, implacáveis e destrutivas, e, por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento que provém desta última fonte talvez seja sentido de modo mais doloroso que qualquer outro".
Freud também destaca as fugas às quais o homem recorre para fugir desse sentimento, sendo elas as distrações (que entendi como sendo hobbies e ocupações), o uso de entorpecentes e satisfações que substituam o sentimento de insatisfação, sendo este último um tanto redundante, já que engloba diretamente os dois anteriores.
"O programa que o princípio do prazer nos impõe, o de sermos felizes, não é realizável, mas não nos é permitido ? ou melhor, não nos é possível ? renunciar aos esforços de tentar realizá-lo de alguma maneira."
Apesar de sabermos, quase todos nós, não ser possível alcançar a plena felicidade, tendemos a recorrer a formas de alcançá-la não por ingenuidade, mas por instinto. E, para isso, recorremos à arte, aos prazeres carnais ou à religião, por exemplo, sendo esta última criticada por Freud como a mais prejudicial à escolha, já que impõe a todos o mesmo caminho para obtenção da felicidade.
O autor e pai da psicanálise destrincha e passeia por muitos temas, como os impulsos carnais, a incoerência presente em mandamentos cristãos e a beleza como inutilidade esperada pela cultura.
Freud tem uma escrita mais fluida do que eu esperava, levando em conta a época e o seu campo de estudo ? a psicanálise. Não é uma leitura difícil, confusa, com palavras desnecessariamente complicadas, mas é uma leitura densa, com termos inevitavelmente desconhecido para muitos, que pode exigir uma maior atenção ou uma segunda leitura.
Um pouco repetitivo especialmente no capítulo final, confesso que não absorvi muito dele. Não por estar difícil, mas porque a essa altura tinha realmente se tornado maçante pra mim, tanto é que este é iniciado com um pedido de desculpas pelo exato motivo que acabo de reclamar. Mas isso não tira em nada o mérito da obra, que foi a minha primeira de Freud e com certeza eu espero ler outras.