Jéssica Maria 01/04/2022
um debate muito bom, mas uma leitura muito desgastante
Comecei essa leitura no início de 2021 e finalizo agora, 15 meses depois, porque é um livro que pede pausas e reflexões.
Qualquer pessoa não branca já sentiu na pele que, para branquitude, as experiências de vida das pessoas brancas soam como universais. Essa ideia de “não ver raça”, que ouvimos ser dita por aí tão frequentemente, reforça a estrutura injusta e racista da sociedade. Precisamos sim ver raça, precisamos ver quem se beneficia da sua raça e quem é impactado negativamente por causa da sua raça, da sua classe e do seu gênero.
Logo, não se trata de uma leitura fácil. Ela é acompanhada de dor e de uma sensação de amargor na boca. Incomoda bastante, principalmente se você não é uma pessoa branca, ver como nossas vidas foram negligenciadas.
O livro é dividido em alguns capítulos: Histórias; O Sistema; O que é privilégio branco?; Medo de um planeta negro; A Questão do feminismo; Raça e classe; Não há justiça, há apenas nós.
O capítulo que trata da história foi bem maçante pra mim. É interessante ver que os ingleses, assim como os estadunidenses, não têm muita noção de história e geografia. No entanto, é ruim ver que essa “falta de conhecimento” nega às pessoas negras, durante a sua formação, o conhecimento de sua história. Me causou também um sentimento de aversão à Europa, porque senti muita vontade de pular esse capítulo, por sentir que eles pulariam se estivessem lendo algo que falasse da nossa história.
Já o capítulo que trata do privilégio branco me inflamou bastante. A autora demonstra como o racismo é muito mais que um preconceito pessoal, é sobre estar na posição de afetar negativamente as chances de vida de outras pessoas. Isto posto, ela escancara que o racismo não está apenas no coração de pessoas más. As pessoas brancas que não são ativamente racistas precisam confrontar sua própria cumplicidade na existência contínua do racismo, pois o racismo não é um incidente isolado, é sobre o mundo em que você vive e seu ambiente.
O capítulo seguinte, sobre o medo de um planeta negro me deu a sensação de ler sobre um tema muito importante, mas, ao mesmo tempo, me senti perdendo tempo, porque a análise é muito focada na Grã-Bretanha.
Já o capítulo sobre o feminismo traz diversas questões bastante importantes, pois lembra que a branquitude é uma posição política, e que se faz necessária desafiá-la em espaços feministas. É um capítulo que fala de um feminismo que não se satisfaz com a ideia de igualdade, mas que luta pela liberdade de todas as pessoas que foram marginalizadas econômica, social e culturalmente por um sistema ideológico que foi projetado para que elas fracassem.
No capítulo sobre raça e classe, a autora rebate os argumentos que querem considerar apenas classe como um aspecto válido, que inclusive já ouvi de pessoas da esquerda, que esquecem que não há qualquer quantidade de privilégio de classe, dinheiro ou educação que proteja uma pessoa negra do racismo. O racismo é tão violento que mesmo que se você trabalhar muito e der o seu melhor irão debater se isso aconteceu por causa da sua raça ou apesar da sua raça.
Apesar de gostar bastante do conteúdo, foi bastante desgastante pra mim a forma que o debate foi apresentado. Talvez por conta da complexidade do tema, ou da forma que o texto foi escrito, com muitos exemplos ingleses e um vai e vem que não é do meu fluxo natural, mas não foi uma leitura fluida, por isso precisou de muito tempo para ser concretizada.