Queria Estar Lendo 24/10/2022
Resenha: Serpentário
Uma história que mistura horror a suspense, Serpentário é aquele tipo de livro que fica com você quando termina. Da melhor e mais perturbadora maneira possível. Uma história sobre o preço de um erro no passado, envolvida pelo melhor que uma inspiração no horror do desconhecido tem a oferecer.
Quase vinte anos atrás, quatro amigos costumavam passar os verões juntos. Caroline, Mariana e Hélio viajavam para o litoral e se juntavam a Paulo, garoto de origem humilde que vivia lá. Esse rito anual de encontro e brincadeiras acabou culminando em uma tragédia envolvendo uma visita a uma misteriosa ilha desconhecida.
Agora, Caroline está voltando para o litoral. Perturbada desde então por estranhas visões, ela foi confrontada por seu pior pesadelo: a pessoa que eles abandonaram na ilha está viva, diferente do que imaginavam. E parece estranhamente feliz em reencontrá-los. Certa de que resolver tudo isso pode ajudá-los a seguir em frente, Caroline tem certeza de que voltar é a melhor opção. Mas, quando chega lá e coisas bizarras começam a acontecer, começa a se arrepender.
Serpentário é uma ótima mistura de horror e mistério. Intercala capítulos no passado, mostrando os adolescentes em suas férias e o caminho que os levou até a ilha macabra. O momento atual de suas vidas conturbadas; cada um marcado pelo que fizeram na ilha, à sua maneira. E relatos que parecem desconexos, à princípio, mas que têm uma coisa em comum: o horror que a Ilha das Cobras guarda.
"- Ninguém sabe pelo que a gente passou. Somos bem mais do que as promessas que não conseguimos cumprir, entendeu?"
A narrativa é rápida, com um ritmo tão bom que não dá para ver as páginas passando. Felipe Castilho conta uma história bizarra e macabra da melhor maneira possível, que é deixando uma pulga atrás da nossa orelha sobre o que aconteceu e o que está para acontecer. Sabemos que a Ilha das Cobras é ruim, mas por que é ruim? O que tem lá, além das milhares de serpentes? O que o passado dessas quatro pessoas esconde?
A amizade é um dos pontos fortes da trama, porque é o que move os adolescentes - e, mesmo separados por quase duas décadas, os adultos. A sensação de culpa também, mas principalmente essa conexão que os quatro tinham. Com famílias conturbadas ou indiferentes, Caroline, Mariana e Hélio viviam o privilégio, enquanto Paulo tinha uma mãe maravilhosa, mas quase nada ao seu dispor.
As diferenças entre as classes sociais são marcantes, e importam para quem eles se tornam quando adultos. O que fizeram na ilha reflete um pouco desse privilégio; dessa indiferença.
Serpentário constrói o horror muito bem, e tem um pézinho naquela coisa Lovecraftiana de lidar com coisas que não são dessa dimensão, o macabro e o cósmico que levam pessoas à loucura por confrontarem o que não deveriam conhecer. Caroline, inclusive, é um belo exemplo disso.
"Ela sabia que nada seria como a escuridão que havia experimentado dezoito anos antes."
Desde a Ilha das Cobras, ela é atormentada por visões terríveis. Mariana se transformou, e Hélio foi transformado contra sua vontade. As mudanças bruscas nas personalidades têm a ver com o trauma, e também com o que a ilha reservou para eles em sua primeira aventura por lá.
A edição da Intrínseca é muito bonita, com pintura trilhateral verde, e essa capa que - graças aos céus - não causa desconforto para quem odeia cobras. Aliás, essa leitura definitivamente vai ser desconfortável se você tiver medo dos bichinhos, porque ô lugarzinho horroroso essa ilha.
Serpentário foi mais uma ótima leitura proporcionada pelo autor. É aquele tipo de livro que eu gosto de classificar como "vai te deixar abubule", porque é essa a melhor definição.
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