Samantha @degraudeletras 02/07/2023On the road, de Jack Kerouac “Eles eram exatamente como o homem melancólico da pedra que geme na masmorra, erguendo-se dos subterrâneos, os sórdidos hipsters da América, uma inovadora geração beat, com a qual eu estava me ligando lentamente. ” P. 78
On the road é um marco não apenas para a Literatura, mas para toda uma cultura beat. Seu valor sociocultural é inegável, porém essa leitura não funcionou para mim.
A história escrita por Kerouac vem para romper com o sistema a partir de jovens desiludidos, o desprendimento com as imposições sociais dos personagens compõe uma rebeldia que poderia ser muito inspiradora na juventude e talvez por isso não me encantou tanto, ao final fiquei com a sensação de ser um grupo de rapazes irresponsáveis que estou dispostos a qualquer coisa por aqueles ínfimos prazeres momentâneos. O protagonista Sal é um jovens introspectivo que deixa seu romance parado pelo meio para meter os pés na estrada com o intuito de encontrar o seu amigo Dean, que venera o sexo e toma a frente das viagens de maneira um tanto duvidosa, como: realizando furtos, se aproveitando de pessoas e até mesmo arriscando vidas com um carro danificado. A rebeldia do grupo de amigos é uma crítica aos valores sociais de família, trabalho, segurança e ao materialismo.
Pode ser que eu esteja sendo caxias? É uma opção a ser considerada, claro, mas pensa comigo… a premissa do livro é a história de amigos que viajam, uma obra precussora de movimentos culturais, o que eu poderia esperar? Viagens ricas culturalmente, reflexões críticas, coisas desse tipo, ao final só me deparei com noites de bebedeira até perder os sentidos, muitos comentários misóginos, as personagens femininas como mero objetos de cópula.
Algo que me surpreendeu positivamente foi que logo nas primeiras páginas desse volume da L&PM há um texto falando sobre a musicalidade da escrita de Jack Kerouac, não li o original, mas a tradução me passou um pouco dessa sensação de uma escrita bonita que traz em si a velocidade narrativa compatível aos acontecimentos na história.
Há durante a leitura alguns comentários bonitos sobre pequenas coisas da vida, mas são pontos perdidos diante das frenéticas viagens e da tentativa de conseguir o sobreviver até a próxima parada, contando moedas e fazendo bicos.
“Ficamos deitados de costas, olhando para o forro e refletindo sobre o que Deus deveria estar pensando quando fez a vida ser tão triste assim.” P. 81
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