Danilo Barbosa Escritor 07/08/2023Criando uma hábil e intrincada teia entre o terreno e o sobrenatural, o sagrado e o profano, Juliana Daglio, com o seu “Lacrymosa” cria uma personagem atormentada, cercada de culpa e mágoa, com o peso de um poder divino que às vezes parece insuportável.
Valery Green é assim. Não apenas uma detetive que atua numa cidadezinha nos arredores de Nova York que tem de lidar com uma série de crimes de desafiam a racionalidade. É alguém com um passado fantástico, com magos, feiticeiras, reencarnações, demônios e exorcistas. Cheia de pessoas que insistem em comandar seus passos para protegê-la e fazê-la abdicar das coisas que mais ama por isso. Tudo para escondê-la e preservar o misterioso dom que carrega.
Mas o passado insiste em encontrar uma forma de voltar, não só na forma do homem que mais amou na vida, mas também o mal em seu cerne demoníaco e absoluto, fazendo-a entrar na maior batalha pelo destino da humanidade.
Uma coisa posso falar com certeza: a autora sabe construir o clima e os personagens. O “mea culpa” que a protagonista carrega oprime e incomoda, tanto que às vezes incomoda, mas é perfeitamente plausível com tudo que ela passou. A mitologia é muito bem embasada, elevando as tramas de possessão e exorcismo a um nível muito bom, principalmente nas cenas de ação. Ela é bem visual e você consegue imaginar as reviravoltas como cenas de um filme. Talvez, na minha opinião, tenha faltado um pouco mais de dinamismo na desenvoltura, o que ocasionalmente me cansou, mas nada que desqualifique a experiência geral.
O final deixa um gosto de quero mais, porque te deixa com “sede de vingança”, literalmente… E confesso que imagina outra coisa, por isso me surpreendi. Quem sabe não surge uma continuação por aí? Enquanto isso, já vou adicionar outras obras da autora no meu e-reader e viajar nesse lado mais sombrio.