Aione 27/08/2019O romance de estreia de Marc Levy, E Se Fosse Verdade, foi responsável por torná-lo best-seller. Nele e em sua continuação não publicada no Brasil, Vous Revoir no original e Finding You em inglês, o leitor conhece o romance entre Lauren e Arthur, cujo enlace recebe a ajuda de Paul, melhor amigo do protagonista. Agora, em P.S. de Paris, é a vez do personagem secundário ganhar sua própria história.
Mia é uma famosa atriz que precisa de um tempo de seu casamento arruinado. Assim, ela se refugia em Paris, buscando passar algumas semanas como uma mulher comum, longe dos holofotes. Em uma tentativa de experimentar um site de relacionamentos, ela acaba conhecendo Paul em uma situação totalmente inusitada, já que ele, um escritor americano que mora há sete anos em Paris, foi forçado por seu amigo, Arthur, a comparecer ao encontro sem saber que aquela seria uma situação romântica. A partir de então, ambos passam a explorar a cidade e a buscar apoio na amizade do outro, sem jamais assumirem que podem estar se envolvendo mais do que gostariam.
A narrativa de Marc Levy é ágil e divertida, de maneira que li P.S. de Paris em poucas horas, sem sentir vontade de interromper a leitura. O livro traz muitos diálogos e não se demora em muitas descrições ou reflexões, o que, aliado à alternância de perspectiva da narrativa — sempre em terceira pessoa, mas ora mais próxima de Paul, ora mais próxima de Mia — confere agilidade à leitura.
Talvez por já existir no universo criativo de Marc Levy há muitos anos — considerando-se que E Se Fosse Verdade foi publicado no final dos anos 1990 — Paul me pareceu um personagem mais sólido do que Mia, com conflitos e nuances mais palpáveis. Ainda, o fato do protagonista exercer a profissão de seu criador nos faz pensar no quanto de um há no outro, além de ser possível observar características metalinguísticas em P.S. de Paris: muito do que Paul defende em sua arte de escrever pode ser observado na própria narrativa da obra.
A leitura acabou me surpreendendo bastante pelos rumos que tomou: se sua primeira metade me cativou pela atmosfera de divertimento e pelo gostoso romance que pouco a pouco se desenvolve entre as personagens, a segunda metade trouxe uma reviravolta que eu não só não esperava como também ampliou os temas discutidos no livro. Sem se aprofundar e mantendo sua característica de leveza, P.S. de Paris acabou por enveredar uma perspectiva histórico-política, que me fez pensar em Tudo Aquilo Que Nunca Foi Dito, no qual algo similar também ocorre.
No resumo, a leitura de P.S. de Paris me proporcionou gostosos momentos de entretenimento e me fez relembrar os motivos por ter gostado dos outros dois trabalhos do autor com que tive contato. Vale dizer que só fui perceber que o casal de amigos de Paul, Arthur e Lauren, eram os protagonistas de E Se Fosse Verdade depois de finalizar a leitura, o que me ajudou a compreender o porquê de haver tantas referências a uma ajuda de Paul sobre o passado do casal que não são elucidadas ao longo da narrativa. Não é necessário de modo algum ler o romance de estreia do autor para ler esse outro livro; contudo, os que conheceram a obra que originou o filme estrelado por Reese Whiterspoon e Mark Ruffalo certamente terão um gostinho extra de satisfação ao reencontrar o casal nessa leitura.
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