Jaqueline 08/01/2012
"A Outra Rainha" é o mais recente lançamento da autora Phillipa Gregory a chegar às livrarias brasileiras. Assim como todos os outros títulos da autora, ele foi publicado no país pela editora Record e não deixa nada a dever às melhores obras do gênero histórico.
Para quem já vem acompanhando a narração da saga dos Tudor pelas mãos da prestigiada autora, desta vez contamos com uma novidade: são três os narradores da história. Os capítulos são intercalados entre a Maria, a rainha dos escoceses, a ambiciosa e traiçoeira lady Bess e seu marido, George Talbot, o conde de Shrewsbury.
O que começa como a oportunidade de prestar um favor à rainha Elizabeth e crescer aos olhos da corte britânica logo se torna o maior erro de suas vidas. Elizabeth, rainha protestante da Inglaterra, quer se ver livre da ameaça representada por Maria, sua rival católica. Mesmo com a Reforma tendo sido implantada há muitas décadas, os descontentes com a mudança no paradigma religioso do país são muitos, e o fantasma de uma sublevação é constante.
George e Bess, o casal protagonista, na realidade não é formado por amigos ou apoiadores da candidata católica ao torno, mas verdadeiros carcereiros que, intencionalmente ou não, regulam sua liberdade e interveem nos seus planos de conquistar o poder supremo no país. Mesmo com a paixão platônica de George por sua hóspede, este jogo não muda, uma vez que auxiliar a rival de Elizabeth ou mesmo permitir que ela troque mensagens com seus súditos significa traição máxima ao reino. Maria, então, se apresenta inicialmente como uma mulher desesperada por sua liberdade, mas rotulá-la como vítima é um erro: acusada de ser a mandante do assassinato de seu marido, ao longo do livro esta beldade revela uma faceta mais manipuladora e determinada do que jamais poderíamos acreditar em um primeiro momento. O contrário acontece com Bess, talvez a personagem mais forte deste romance. Com um passado marcado pelas dificuldades financeiras, a ambiciosa condessa regula suas finanças com mãos de ferro, atividade bastante incomum para uma mulher na época. Capaz de analisar friamente qualquer situação em prol de seu benefício, ela vive as agruras de manter um casamento com um homem que despreza e julga inferior enquanto suporta a admiração de seu marido pela bela rainha dos escoceses e tem sua lealdade incessantemente questionada pelas conspirações de Cecil, um espião da rainha Elizabeth.
Ler "A Outra Rainha" é realizar um delicioso exercício de voltar ao tempo. Naquela época, reis e rainhas eram vistos como escolhidos diretos de Deus para exercer Seu comando na terra. O que para nós pode parecer absurdo em tempos de Estado laico era uma das normas mais imperativas do século XVII.
Esta não é uma leitura fácil, vista a grande quantidade de nomes, títulos e informações dispostas em suas páginas. As reviravoltas são muitas, com aliados e inimigos constantemente mudando de lado de acordo com seus interesses nem sempre escrupulosos. A trama de conspiração e traição, tema recorrente nos livros de Phillipa, pode assustar os leitores mais ingénuos, acostumados com romances açucarados ou tramas rasas de suspense. Nada disso se aplica aqui: os desafios do livro são questões de vida ou morte; estratégias políticas que definem liberdades pessoais e coletivas, movimentam exércitos e ameaçam reis e rainhas, colocando milhares de vidas em jogo.
Contando com um trabalho de pesquisa intenso, muitas vezes torna-se difícil identificar onde termina a apresentação de fatos históricos e começa o romance ficcional criado pela autora. O encadeamento das ações e a coerência dos personagens são brilhantes, garantindo todo um clima de suspense no leitor conforme novas ambições vão se apresentando na história. O final do livro é amargo, tão amargo quanto a própria vida. Para os fãs de História e de bons romances, "A Outra Rainha" é um prato cheio.
>>Análise previamente publicada no site www.up-brasil.com