Leonardo1263 26/11/2023
O amor tem tipos diferentes de se expressar
A Obra EU MATEI ADOLF HITLER escrita pelo quadrinista Jason e distribuída no Brasil pela editora Mino é a bola da vez. Jason é mais conhecido nas terras brasileiras por sua obra EI, ESPERA… porém as demais possuem mesmo formato de narrativa e mesma estética.
Nessa edição temos ali de inicio um casal, em um quarto de motel, a mulher finge que está transando, fazendo barulhos e narrando a cena de forma delirante, enquanto seu companheiro está com uma sniper na janela, apontada para um alvo do outro lado da rua prestes a atirar e matá-lo. Trata-se de um matador de aluguel profissional. O matador em questão parece ser uma pessoa extremamente fria, seu relacionamento não vai bem, e ao caminhar na rua vê muitas atrocidades, mas nenhuma parece o tocar o suficiente para se importar. Temperamento perfeito para sua profissão. Seu escritório é cheio de clientes que encomendam mortes pelos motivos mais banais possíveis e não parece que há um senso moral na escolha do trabalho, todos são a mesma coisa, tudo que vale é o dinheiro.
Eis que um dia lhe chega uma proposta paranoica de um velho homem, que pede simplesmente que nosso matador acabe com Adolf Hitler. Percebendo que o mercenário está Intrigado de como faria isso, o velho cientista apresenta ao matador sua maquina do tempo, que tem apenas 1 chance, e que demora cerca de 50 anos para recarregar, então caso não consiga, demorará mais 50 anos para uma segunda tentativa. A viagem não só da errado, como Hitler acaba por parar no tempo atual. Agora disfarçado entre os cidadãos atuais, eles precisam achar o nazista a todo custo e concluir sua missão.
Antes de entrarmos na zona de spoilers, fica aqui minha indicação de uma breve história, bem estruturada, simples, que trata de uma forma interessante a questão de viagem no tempo, amores perdidos e como os valores mudam ao longo dos anos. Questões morais são abordadas aqui, mas como se trata de banalizar o absurdo que é ser um assassino de aluguel, qualquer outra atrocidade se torna corriqueira. Embora o autor sempre procure antropomorfizar seus personagens, ao contrário de MAUS, de Art Spiegelman, aqui não tem relações de raça com acontecimentos reais, apenas uma forma de mostrar que no mundo há diferentes raças, cores, tipos e tamanhos partilhando todos do mesmo espaço.
DAQUI EM DIANTE, SPOILER’S!!!
Embora seja uma ficção rápida e despretensiosa, o autor retrata como o tempo nos faz bem para refletirmos certas questões pessoais. Nosso mercenário quando jovem não dá muita atenção para sua namorada, o relacionamento é tão frio quanto ele mesmo, mas ao reaparecer 50 anos mais tarde, algo amadureceu. A gratidão por coisas simples aflorou e quase que conseguimos vê-lo chorar por perder tanto tempo da presença de sua amada. Mesmo sendo uma pessoa fria, ele tem a chance de estar novamente sob o mesmo teto que ela. Enquanto se passaram 50 anos pra ele, pra ela apenas alguns dias. Ela tomou seu caminho, se relacionou com novas pessoas e a vida seguiu seu curso. Nesse tempo de afastamento, ele também constituiu família e sua vida seguiu, mas um amor antigo, quando mal terminado, sempre traz sensações.
A caçada por Hitler afinal foi um presente do destino para terem novamente um tempo juntos. Embora seja uma missão extremamente difícil, partilhar a companhia perdida por ele parece um ótimo pretexto para se estar vivo. Ao fim, temos uma ótima saída para retratar as segundas chances que o amor pode nos dar.
Não se engane, embora eu tenha retratado a percepção sobre o amor de ambos, a HQ não é sobre o amor romântico hollywoodiano, se trata mais de uma amor maduro, um amor da presença, da falta que faz a companhia, do amor do cuidado e companheirismo. Esse é um dos amores mais lindos e fundamentais da vida do homem, e perder isso, causa impactos sérios. Muito mais forte que qualquer amor/paixão/tesão, uma necessidade de compartilhar a vida junto ao outro. Leia!