Kennia Santos | @LendoDePijamas 16/01/2021A questão aqui é o Rock N' Roll ou a minha vida, e não vou escolher o Rock N' Roll.Título: Daisy Jones & The Six | Autora: Taylor Jenkins Reid | Classificação: 3/5
Daisy Jones & The Six foi uma banda de Rock dos anos 70 que ficou mundialmente conhecida depois do álbum Aurora. Composta pelos irmãos Dunne – Billy e Graham –, Karen Sirko, Warren Rhodes, Pete e Eddie Loving, e por último, Daisy Jones.
Juntos, fizeram muito sucesso, lotaram plateias, dominaram as rádios e conquistaram o público do Rock N’ Roll com letras que falavam sobre amor, perda, vícios e desejar algo que não se pode ter.
Teddy Price foi o produtor da banda, descobrindo-a em 1972, participando da gravação dos discos e das músicas de perto, ficou bem próximo a Billy Dunne, que o via como a figura mais próxima de um pai. Foi também o responsável da união dos The Six com Daisy Jones.
Rod Reyes foi o empresário, que acompanhou toda a trajetória dos integrantes antes e depois de Daisy Jones, desde o início até a ascensão.
No dia 12 de julho de 1979, no último show da turnê Aurora, a banda se separou.
Cada integrante foi para um lado e não mantiveram o contato. De repente, a banda mais badalada dos anos 70 não existia mais. E ninguém nunca, nunca soube o porquê.
Até agora.
Narrado em forma de entrevistas, Daisy Jones & The Six é um romance de Taylor Jenkins Reid que fala sobre fama, dinheiro, droga, dramas e amores.
Nunca escondi que amo a forma como a Taylor escreve, e como durante as narrativas dos seus livros ela expõe ‘sacadas’ geniais sobre a vida, de acordo com o contexto da história.
A escrita é muito bem fluida, e toda história transmite reais sensações de cada personagem – a agonia, a paixão, o sofrimento. No entanto, do meu ponto de vista, tem muitas coisas ruins. E coisas boas também.
- PONTOS NEGATIVOS
1- Pra começar, EU NÃO GOSTEI DA DAISY. Achei ela uma personagem completamente IRRESPONSÁVEL, e eu ODEIO irresponsabilidade. Porque geralmente, as consequências dos atos dos irresponsáveis não afetam somente a eles. Afetam muito mais as pessoas envolvidas. E eu fico puta com isso. Porque é INJUSTO, cara. É injusto.
2- Tem uma coisa muito, MAS MUITO SÉRIA aqui que é a ROMANTIZAÇÃO DO USO DE DROGAS. Taylor abordou isso de forma muito... ‘errada’, por assim dizer. Cara, a Daisy fica chapada o livro INTEIRO. Porque É O TEMPO TODO. Ela usa drogas o tempo todo.
Agora me digam aqui, vocês sabem qual é a consequência disso? Sabem o que acontece com uma pessoa assim? O nosso corpo é um templo. E o que acontece quando não cuidamos do templo? Ele apodrece.
Já no livro, a Daisy está sempre maravilhosa. Sempre atrai olhares. Sempre linda e perfeita.
Cara, vocês já ouviram falar na Cracolândia? AQUILO é um retrato real de pessoas que usam drogas a todo tempo. O corpo não aguenta. A pessoa emagrece até os ossos. A pele fica ACABADA.
Só existe o efeito do entorpecimento/esquecimento quando se trata de maconha, porque no resto? Não existe o momento criativo, arrebatador... a pessoa fica AGRESSIVA. Ela perde a noção de tudo, TUDO.
E não é o dinheiro que salva, nem nada. Mas ainda que fosse, a Daisy não fazia nada disso. Não se cuidava, não tentava disfarçar. Daisy me lembrou muito Amy Winehouse. Amy tinha um talento SURREAL. Mas o uso excessivo de drogas fez o que fez com ela.
'É impossível controlar alguém dessa maneira. Por mais que você ame a pessoa, seu amor não vai deixar ninguém saudável e seu ódio também não.' (p.299)
'Mas, em algum momento, é preciso reconhecer que não dá para controlar o que os outros fazem, e que dar um passo e se preparar para amparar a pessoa quando ela cair é o máximo que você pode fazer. É como se jogar no mar. Ou melhor, não exatamente. É como jogar alguém que você ama no mar e torcer para a pessoa saber nadar, porque sabe que tem um risco grande dela se afogar bem na sua frente.' (p.299)
- PONTOS POSITIVOS
1- Não dá, simplesmente não dá pra começar a falar de algo positivo nesse livro que não seja pela Camila. Puta merda, que mulher. Desde o começo dá pra perceber que ela não seria mais uma, que ela faria a diferença, e não só na vida do Billy.
'Não cabe a mim contar o que aconteceu naquele dia. Só posso dizer que é preciso ficar ao lado dos amigos mesmo nos piores momentos. E segurar a mão deles nas horas mais dolorosas. Sua vida se define por quem segura sua mão. Ou pela mão de quem você decide segurar.' (p.302)
Com o decorrer da história percebemos o papel dela e sua importância na vida de cada personagem, e da banda também. Camila teve uma fé surreal, uma confiança, um amor... que eu nem consigo imaginar ter. Ela era o retrato da resiliência.
'Acho que a gente precisa mostrar que tem fé nas pessoas mesmo quando elas não merecem. Caso contrário não seria fé, certo?' (p.82)
Como disse pra uma amiga, pra mim, o livro deveria se chamar “Camila e o resto”. Porque mano, sem essa mulher o livro não seria nada.
Ela foi a primeira pessoa a confiar e acreditar nos The Six.
Ela quem incentivou Billy, mesmo com tanto problema que aquele cara tinha.
Ela foi a inspiração de Aurora, álbum que marcou a ascensão da banda.
E eu poderia escrever linhas e mais linhas de qualidades dela. E ela não foi perfeita, afinal ninguém é. Teve seus momentos. Se cansou. Se questionou. Mas no fim, tinha confiança das decisões que tinha tomado e o caminho que tudo isso levava.
2- O amadurecimento de Billy é algo que eu achei SENSACIONAL nesse livro. Porque vou confessar pra vocês, no começo eu fiquei putassa com ele. Só pensava ‘Camila, mete o pé na bunda desse panaca e vai viver sua vida incrível’. Só que vemos aqui que para esses dois, a palavra incrível só existia quando eles estavam juntos.
'Imagine que o maior sonho da sua vida virou realidade e você está se sentindo vazio. Aquilo não significava nada se eu não pudesse compartilhar com ela.' (p.44)
Muitas pessoas não dão valor à um voto de confiança. Mas posso dizer que Billy deu. Ele fez MUITA MERDA. Sim, ele fez. Mas mano, a gente consegue perceber a luta dele pra ser cada dia melhor, pra superar seus pensamentos e vícios, pra ser um pai melhor.
'Mas o amor não se resume a perfeição, diversão, risos e sexo. Amar é perdoar, ter paciência e fé, e de ver em quando levar um murro no estômago. É por isso que é uma coisa perigosa se apaixonar pela pessoa errada. Amar alguém que não merece ser amado. Precisa ser alguém que mereça sua confiança, e você precisa merecer a confiança da outra pessoa. Isso é uma coisa sagrada.' (p.218)
A gente consegue perceber a dedicação dele no trabalho, o quanto ele não se importava de ficar ralando até sei lá que horas pra tudo ficar perfeito. E ele era centralizador? Sim. Egoísta às vezes? Sim. Mas como eu disse, ninguém é perfeito.
Billy não era perfeito. Mas foi o exato retrato de amadurecimento. De saber ponderar. De não agir por impulso. De pensar nas consequências. De ser racional.
'A paixão é... é fogo. E pô, fogo é uma coisa incrível. Mas a gente é feito de água. É a água que mantém a gente vivo. É da água que a gente precisa para sobreviver. Minha família era minha água. Eu escolhi a água.' (p.289)
Nunca imaginei que fosse terminar o livro BATENDO PALMAS pra ele. Mas é isso. BILLY DUNNE, parabéns por quem você se tornou.
'Já deu. Cansei. A questão aqui é o rock n’ roll ou a minha vida, e não vou escolher o rock n’ roll.' (p.321)
3- As músicas eram sensacionais. Daisy & The Six mereceram o sucesso. Billy e Daisy eram uma faísca juntos. Muito talento, muita paixão pela música.
'É por isso que eu sempre amei fazer música. Não pelo som, pela fama e pela diversão, e sim pelas palavras que a gente pode deixar fluir enquanto canta -as emoções, as histórias, as verdades.' (p.125)
4- Karen pra mim foi uma personagem um pouco injustiçada, que merecia mais voz e mais espaço na narrativa. Apesar de não ter concordado com uma determinada atitude dela, eu entendi que tudo aquilo fazia parte dos princípios que ela tinha, dos valores dela. E amei que ela seguiu cada um deles, que não corrompeu nenhum pra externamente ter uma vida padrão cheia de unicórnios.
'Hoje não acredito mais em almas gêmeas e não estou a procura de nada. Mas se fosse para acreditar nisso, diria que sua alma gêmea seria alguém que tem tudo o que você não tem e precisa de tudo o que você tem a oferecer. Não alguém que sofra pelas mesmas coisas que você.' (p.181)
E claro que no fim teve um tombo – afinal estamos falando de Taylor, mas tudo fez sentido no final. As entrevistas, as histórias. Senti falta de mais, de saber mais detalhes sobre o que aconteceu após a separação da banda, mas ok, até aí tudo bem.
Esse livro foi uma confusão pra mim. Ao mesmo tempo que AMEI as coisas que falei, eu ODIEI as outras coisas. Achei perigoso, excessivamente romantizado.
É um livro que gera sensações, agonia. Mas não é um livro que eu faria uma releitura.