Nice.Vitor 23/02/2022
Um livro absurdamente essencial e urgente.
O livro é o árduo trabalho de buscar trazer uma base mais sólida para o contexto da música cristã, quer seja no ambiente congregacional, quer seja no âmbito artístico de modo geral. O autor livro trata acerca dos problemas do gospel e de como temos entendido muito errado conceitos relacionados à música cristã. Por isso o autor busca apresentar uma vida após o gospel, reestabelecendo conceitos, apresentando a história do gospel, tecendo críticas e instruindo de forma prática como proceder nesse novo caminho. Alguns problemas que autor se propõe a resolver são: como foi que todo o caos gospel começou, quais os problemas que essa marca mercadológica tem apresentado, como devemos entender certos conceitos de louvor e adoração comunitária e o que fazer para uma vida após o gospel. Marco Telles é um artista nordestino, sendo o principal produtor do Coletivo Candiero, selo de uma comunidade de artistas (15, atualmente) comprometidos com boa música cristã abrasileirada, com beleza e boa teologia. Estão aí pra espalhar "Marat Sá" por todo canto. Ele tem um background de teologia reformada, que pode ser notada durante suas argumentações, principalmente no aspecto do contato e produção cultural do cristão.
Na Parte 1 desconstruindo conceitos e reconstruindo os mais adequados, sobre louvor, adoração (e qual a diferença entre ambos) e outros que envolvem esses temas, fazendo isso em três capítulos. No Capítulo 1, ele desenvolve o tema do louvor, trazendo diversas caraterísticas do mesmo (estético, mensurável, multiforme, também vem da natureza, é a riqueza na pobreza e se manifesta em inteireza) e apresentando-o como algo que é manifestado de forma exterior. No Capítulo 2, ele desenvolve o tema da adoração, buscando como apareceu biblicamente pela primeira vez o termo e abordando aquilo que a Escritura tem a dizer acerca dele (apresentando com um "prostrar-se" e fazendo uma exposição de João 4 sobre o tema) e apresentando-o como algo que se manifesta de forma interior. No Capítulo 3, ele aborda outros termos (desmistifica o uso de música, hino, corinho, levita, músico e apresenta a gênese do termo "gospel"), buscando instigar uma análise com honestidade acerca desses nossos usos da linguagem costumeiros. Na Parte 2 ele já começa as instruções práticas, sobre como deve ser o ministro de louvor, a escolha do repertório e a arte para-eclesiástica, fazendo isso em três capítulos. No Capítulo 4, ele desenvolve as características de um ministro de louvor, apresentando de fato como ele deve ser, através da pessoa de Davi (sabe tocar bem, forte e valente, homem de guerra, sisudo de palavras, de boa aparência e o Senhor é com ele). No Capítulo 5, ele aborda as questões de repertório das músicas congregacionais, acerca do que é importante (o Evangelho, a letra e a comunidade), o que é secundário (o ritmo, tamanho da música e a execução), o que deve sair (heresias, subjetividade, poesia pobre e repetitiva e o espetáculo) e o que o autor apresenta como mais aconselhável a escolher (boas músicas antigas, músicas de fora do circuito midiático e autorais). No Capítulo 6, ele lida com até que ponto a arte cristã deve ser apenas para dentro do arraial da igreja e o quanto deixamos a arte abandonada, sendo dominada pelo mundo. Na Parte 3, a central, ele tece suas críticas ao Movimento Gospel propriamente dito, traçando a história da música evangélica brasileira, apresentando os tropeços desse movimento e com algumas palavras finais sobre música secular, fazendo isso em três capítulos. No Capítulo 7, ele traça a história da música cristã brasileira em quase 50 anos, lidando, inclusive, com nomes de influências (tudo isso em 4 fases: o missionário, o ministro de louvor, o profeta e o artista). No Capítulo 8, ele aborda grandes erros do gospel, mais especificamente 3 (o super-homem gospel e o liberalismo teológico, heresias da prosperidade e triunfalismo e a arte industrial). No Capítulo 9, ele fala que tem como encontrar bom conteúdo na música gospel, como tem bom conteúdo secular produzido por descrentes, lidando com a doutrina da Graça Comum. Na Parte 4, ao final, ele tece suas considerações finais de forma geral, trazendo todos à humildade e apresentando excelentes opções de repertório. No Capítulo 10, ele faz esse chamado à humildade por nossa parte, daqueles que produzem e daqueles que consomem. No Capítulo 11, ele apresenta nomes que são excelentes substitutos e pós-gospel para que possamos consumir música cristã de qualidade.
O livro é bonito demais, a capa é simplesmente tão intensa e polêmica quanto o autor assume que é a proposta do livro. Gostei demais da organização interior. É um livro muito bonito e bem organizado. O livro é muito gostoso de se ler. Por um lado, muita descontração em dados momentos, por outro, muita seriedade para abordar os temas sérios que se propõe a tratar. De forma exímia, ele cumpre com tudo aquilo que se propõe e responde às questões que são postas à mesa. Os argumentos são muitíssimo bons, por mais que você possa discordar de alguns ou de suas conclusões, certamente a pulga atrás da orelha, como o autor propõe a gerar, será posta. Em geral, concordo com absolutamente todas as conclusões.
Esse livro é absolutamente recomendável para todo músico cristão, líderes e membros do ministério de louvor e pastores que se preocupam com o canto congregacional. Eu faço uma recomendação absolutamente especial para os muito interessados no mercado/música gospel e, principalmente para os próprios artistas do meio gospel. Se, de alguma forma, esse livro chegar até eles creio que seria muito proveitoso, nem que seja pra trazer uma pulga atrás da orelha, uma chacoalhada e/ou uma reflexão. Qualquer um que esteja de olho no gospel (gostando ou não desse meio) deve ler esse livro.