Lara 09/06/2024
Reflexão sobre o conceito de humanidade
"Duzentas páginas de puro ódio", é assim que descrevo a minha leitura do livro.
Comecei a lê-lo por saber que outras pessoas gostavam muito dessa obra, então resolvi experimentar um clássico, com muita expectativa.
De início, a história me pareceu um tanto "melosa", pois contava sobre três homens que não faziam muito mais do que elogiarem uns aos outros de uma maneira bastante estranha. De fato foi um início meio nojento e irritante para uma mulher ler, mas até mesmo me provocou alguns risos de indignação.
Sobre o personagem Harry... Ah, o que dizer sobre ele? Ao mesmo tempo que penso "tudo é culpa dele", também penso "mas foi o Dorian que se deixou influenciar". No fim, acho que o Harry não pode ser culpado por ter opinião.
Assim a história foi acontecendo, sempre me deixando indignada e me fazendo fechar o livro várias vezes para suspirar e revirar os olhos. São muitos os comentários pertinentes dos personagens, ao mesmo tempo que, mais do que esses, são os comentários odiosos e repugnantes, que fazem pouco caso com o sentimento alheio, com a vida e com a auto-preservação.
O ápice da história, para mim, foi próximo à metade do livro. Todo o caso que envolveu a Sibyl me abalou. Adorável criatura que teve um trágico fim. Mas temos de concordar, somos responsáveis por nossas próprias ações e a decisão final de Sibyl coube apenas a ela mesma.
O que se segue a esse momento é simplesmente a parte mais arrastada e desinteressante da história, ao meu ver. Um capítulo de 18 páginas, apenas descrevendo vulgaridades e interesses distintos que Dorian começa a desenvolver, sendo que todos colaboram para a futilidade do personagem que gradativamente passa a se tornar cada vez menos "humano", numa definição em que "humanidade" refere-se à convivencia pacífica e orgânica em sociedade. Mas se considerermos "humanidade" os nossos instintos e desejos mais puros... De fato o Dorian passa a ser nada mais do que um simples humano.
Mas o que amarra toda a história, e nos mantêm curiosos até o fim, com certeza é a questão do retrato. A "magia" de fato funciona? Ele realmente se altera? E as respostas sempre são as melhores, sempre são as que imaginamos mas não queremos acreditar. O que acontece com ambos o retrato e Dorian, no desfecho do livro, de fato faz valer a pena a leitura.
Quanto à edição de O Retrado de Dorian Gray da Via Leitura, muito me agradou a diagramação. As letras são boas, bem como os espaçamentos e as margens. A capa minimalista é bem bonita, e acho que nos ajuda a não termos muitas ideias pré-concebidas antes da leitura. O tamanho do livro é bom de segurar e a textura também é agradável ao tato. A única questão que me deixa levemente chateada é a possibilidade de este ser um livro sem o texto integral, mas não sei se é o caso. Fica a dúvida se trata-se do texto censurado ou não.