malucpinheiro 29/05/2024
Será que estamos tão distantes de Gilead?
Crise ambiental, crise social, crise política e econômica. Crescimento do movimento Conservador como uma reação ao medo da Modernidade, e da pluralidade e a insegurança que ela representa. Num mundo com laços fragilizados, o outro se torna objeto, onde a insuficiência dos modelos instituídos nos deixa inseguros diante de tantas escolhas e poucos parâmetros definidos. Além disso, numa estrutura machista e patriarcal, o incômodo de homens (e mulheres) assustados com os progressos das liberdades e ampliação do Direito feminino.
A sexualidade e a reprodução feminina sendo determinada pela sociedade (machista), não por si mesma. No afã de proteger, pais repetem o discurso machista. E é com esse discurso de insegurança e culpabilização das mulheres que Gilead justifica suas medidas opressivas. Quão confusa é a diferença entre a proteção e a prisão! Interessante a perspectiva da autora quanto aos dois tipos de liberdade, liberdade para e liberdade de.
Mulheres confiam em homens sua proteção, pensei em tantas histórias de abusos e outros crimes contra as mulheres perpetrados justamente por tantos homens de confiança. Quem poderá nos defender? Há uma rivalidade feminina tão estimulada, nos ensinando ao não se meter, a julgar e condenar, a não confiar umas nas outras. Uma filosofia ostensivamente imposta no Centro Vermelho de Gilead.
Medo generalizado. Um eficaz sistema de dominação. No fim das contas, uma delicada política de dominação dos corpos femininos e da reprodução humana como meio de política demográfica em determinados meios.
Gilead pode parecer distante para quem não observa ao redor. Tia Lydia avisou que Gilead não
tem fronteira, está dentro de cada um.
É imprescindível conhecer História, saber das coisas que já vivemos, afinal, a Margaret Atwood estabeleceu como critério utilizar somente fatos que realmente aconteceram na nossa história humana, e estar atento ao presente para reconhecer os sinais e refletir sobre os caminhos que tomamos.
Mudanças gradativas ou não, sutis alterações na legislação que passam muitas vezes despercebidas pela grande população. Além de rebeliões, revoluções ou golpes sustentados por consistentes narrativas ideológica que, muitas vezes, apoiados por uma parcela até razoável da sociedade, põem em risco todos nós. Os direitos
não são garantidos. E também se submetem as estruturas de poder. São muitos e grandes os perigos da complacência social, da zona de conforto, especialmente em relação ao declínio das nossas liberdades individuais.
Levando em conta que o livro descreve uma República Teocrática, é importante olharmos ao nosso redor, aqui e agora, e refletir com franqueza e profundidade: O que é Deus? O que Ele quer? Deus e a religião são frequentemente instrumentos de manipulação, de dominação, é crucial estarmos alertas! Falsos profetas são os que não falam o que eu quero? Tão complexa essa questão da fé. A fé deve nos conformar ou nos fazer lutar com coragem? Quem pode falar em nome de Deus?
Vista de longe, a padronização, a homogeneização podem até parecer paz. Mas de perto, além da pobreza miserável monotônica, por mais ricos que possam ser, um preço muito alto é pago, há custas de muito sofrimento e, sim, muitos conflitos.