Tiago sem H - @brigadaparalela 18/04/2015Lançado em 2001, Reparação é um romance escrito pelo autor britânico Ian McEwan e sua importância para a literatura contemporânea é tamanha, que o livro está na listagem da maioria dos desafios literários americanos e ingleses, rendeu ao autor diversos prêmios do meio e está na listagem dos 100 melhores livros do período de 1983-2008.
A obra é dividida em três partes e um epílogo e talvez a parte mais densa em matéria de escrita esteja justamente na apresentação dos personagens. Não que a escrita seja complicada, não é isso. Acontece que o autor utiliza do discurso indireto livre para compor essa parte, ou seja, temos um narrador que nos apresenta a história do ponto de vista dele e em certos momentos sua narrativa se mistura com os pensamentos dos personagens a ponto de não sabermos quem está falando. Essa técnica permite ao leitor ir a fundo nos pensamentos mais ocultos dos personagens em questão.
Nesse primeiro período da trama, somos apresentados a Briony, uma criança com cerca de 13 anos que nutre o sonho de ser escritora e consequentemente possui uma imaginação muito rica. Após ter sua peça teatral frustada pela participação dos primos, a garota fica desolada. Depois de presenciar situações e conversas aleatórias envolvendo sua irmã e o filho da empregada, Briony ao seu modo de pensar, acaba juntando as peças e formula uma nova história na sua cabeça, da forma como ela entende, meio que para suprir a falta da peça teatral. Essa nova história será o estopim para um trauma que ela levará para toda vida e que é o cerne da trama. Outro ponto interessante dessa primeira parte, é que o autor também se preocupou em mostrar todo o costume da época (1935), onde por mais que as mulheres se esforçassem academicamente, nunca que elas poderiam ficar na frente dos homens.
A segunda parte da história é ambientada durante a Segunda Guerra Mundial e agora, temos a narrativa pelo ponto de vista de um dos personagens. Podemos acompanhar mais precisamente a forma de como esse personagem luta para voltar para casa em meio aos bombardeios e mortes. As mortes...então, por temos a narrativa em primeira pessoa, o autor irá descrever para o leitor a guerra do ponto de vista do soldado. Os sentimentos que ele tem de medo, de bravura ou de saudade, o leitor será fortemente impelido a sentir. Essa etapa ela é marcada por flashbacks e podemos entender melhor os acontecimentos após o crime ocorrido na primeira etapa da trama e o que aconteceu para que esse personagem fosse enviado para a guerra. As lembranças são mostradas de uma forma tão coesa, nos momentos certos e dão um ar de realismo gigantesco para o livro.
Já na terceira parte do livro temos a narrativa pelo ponto de vista de outra personagem, ainda no período de guerra, só que dessa vez, o cenário muda para um hospital que recebe os feridos dos conflitos. Se as cenas dos campos eram pesadas, elas não chegam nem aos pés das fortes cenas mostradas nos hospitais. O autor não mede esforços para nos apresentar os resultados crus da guerra e além de descrever todo o cotidiano das enfermeiras durante uma grande guerra, também descreve com maestria as feridas e perdas dos soldados. Uma das cenas mais chocantes e mais tristes de todo livre está justamente nessa etapa. É de partir o coração acompanharmos esses tratamentos dos feridos.
Optei por não dizer qual era o crime ocorrido e quais personagens narram as partes finais, por que mesmo que a essência da obra não esteja nesse ponto, acredito que a descoberta é um charme a mais que o livro possui e seria totalmente desnecessário tirar esse atrativo de vocês.
Reparação é um livro tocante, bonito e fantástico que merece todas as ovações feitas pelo mundo literário. Não é um livro feliz, é um livro que aborda traumas familiares, mentiras e sobretudo remorsos. Nunca havia lido nada do autor e certamente irei procurar por outras de suas obras e para não quebrar a corrente que gira entorno dos leitores de Reparação, a obra entrou fácil para os meus livros favoritos da vida.
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