spoiler visualizaralice 30/07/2021
Bom, mas poderia ser muito melhor.
Baby Don't Go foi a minha primeira leitura da Andresa, e ela não foi uma total decepção. Eu não costumo escrever muitas resenhas, mas no caso de livros nacionais eu gosto de dar minha avaliação sempre que posso, afinal, isso também é importante no apoio aos autores nacionais, não? Então vou falar dos pontos positivos e negativos desse livro, e já peço desde já que respeitem a minha opinião, por favor. Não tenho intenção alguma de menosprezar o trabalho e o esforço da Andresa com a minha resenha, somente expor o que eu achei do livro. Também gostaria de avisar que durante a resenha vou falar sobre o tema de suicidio, o que pode causar gatilhos, então tomem cuidado.
Então vamos começar:
A escrita da Andy foi muito fácil e gostosa de ler, o que ajudou muito nas horas em que eu perdia o interesse pelo mistério. Assim que você olha para o livro, você se pergunta “por que não? ah, vou terminar”, e depois de um tempo você já avançou mais da metade da leitura. Para mim, essa foi uma das coisas que fez o livro valer um pouco. Apesar de ter alguns erros de digitação na edição, não foi nada grotesco — e considerando que a Andy fez praticamente tudo sozinha, eu bato palmas pela qualidade surpreendente do ebook (a capa e a diagramação estavam lindas!)
Outra coisa que vale destacar são os personagens. Todos aqueles que receberam alguma camada a mais além de estar no livro são palpáveis e reais de certa forma, até mesmo o Damon. Mesmo que sejam secundários e não sejam tão aprofundados eles têm uma personalidade identificável.
A protagonista também virou uma das minhas favoritas, mesmo com muitas ressalvas (vou explicar depois). A Hope não é aquele tipo de mocinha de livros de mistério clichê sempre lacradora e insuportável, o que destoa muito do que geralmente a gente encontra no mercado literário. Ela é bem tranquila em comparação a quase todos os personagens, mesmo com tudo que acontece com ela. Ela é uma adolescente como vários outros, e muitas vezes os pensamentos dela em relação à vida e a escola me pareceram muito familiares, porque eu também sou adolescente, e isso me fez gostar muito dela. A Hope não me cansou em momento nenhum, e foi muito bom ler o livro no ponto de vista dela.
O Damon também foi um dos pontos bons. Eu tenho uma tendência a gostar de personagens um pouquinho tóxicos, especialmente demônios, mas eu tinha medo de que em algum ponto do livro a autora fosse romantizar ele ao ponto de nos esquecermos de tudo de ruim que ele falou ou fez, e o transformasse em um anjinho simplesmente do nada. Graças a Deus, isso não aconteceu, pelo menos não exatamente assim. O Damon foi apresentado desde o começo da história como uma espécie de antagonista, e com o passar do livro, pudemos ver ele fazendo coisas ruins e boas ao mesmo tempo, e isso fez ele atraente para mim. Além de tudo isso, mesmo sendo um demônio, ele conseguiu ser engraçado e fofo também. Pra mim a dinâmica dele com a Hope foi muito legal de se ler, mesmo que não seja tão saudável. Pelo menos não foi romantizado como umas e outras por aí.
E por último, mas não menos importante: o enredo.
Apesar de eu ter muitas críticas com relação ao modo como foi feito, o plot é muito interessante. Uma ex-amiga da protagonista é assassinada, e então ela decide investigar. No meio de tudo isso, outros jovens morrem ou desaparecem nas mesmas condições, e tudo na vida da protagonista muda e vai ladeira abaixo — tudo com um demônio pessoal dando pitaco. Isso por si só já me parece um bom plot de mistério. E depois, no final, tem o plot twist que foi bem criativo e me deixou querendo mais da história e do Andy Verso. No fim, a ideia foi maravilhosa, e isso me fez dar pontos para o livro.
Mas, como nem tudo é perfeito, também acho que há muitas coisas para descontar. Porque apesar da ideia genial, dos personagens interessantes e a escrita da autora, o livro terminou sendo… ruim.
No começo da resenha, eu destaquei que gostei da Hope como personagem, e isso foi verdade. Mas a profundidade e desenvolvimento dela deixou a desejar. Como protagonista, eu esperava que ela fosse mais desenvolvida e complexa que os outros, porque além do fato óbvio de ela ser um dos pontos principais da história, ela também é uma garota suicida, que pasmem, só ganhou o seu demônio pessoal por causa do suícidio. Tendo isso em vista, o que eu esperava era que pelo menos o leitor soubesse porque uma menina de 15 anos tentou se matar e que isso fosse devidamente aprofundado, mas não foi. A explicação para o suícidio dela foi tão fraca que eu senti como se fosse só uma espécie de atrair o leitor pra história. E sabendo que suícido é um assunto seríssimo para ser abordado e usado como parte do enredo, a forma como a autora trabalhou isso foi péssima. Por mais que eu tenha desenvolvido simpatia pela escritora, não dá pra você fazer uma história em que um dos problemas principais seja suícidio e não discutir sobre em momento algum. De verdade, as únicas vezes em que fui apresentada ao tema durante a leitura foi quando a Hope falou da sua tentativa, quando a escola resolveu fazer um evento contra o suícidio, e na reflexão sobre ningúem procurar perceber um jovem em depressão e com vontade de se matar, além dos constantes lembretes do demonio. Fora isso, eu não vi mais ninguém falando. Não teve aprofundamento, ou desenvolvimento. Ninguém se perguntou sobre o que leva um adolescente na flor da idade a querer parar de viver, e nem mesmo discutiu sobre melhorar da depressão e sair dela.
Além do mais, tem a construção do enredo. Sim, eu disse que gostei, porque a ideia foi muito boa, mas a verdade é que ele não foi bem feito.
Veja, a premissa era de um grande mistério sendo resolvido por uma adolescente suicida, certo? Certo, mas o que aconteceu na hora de resolver tudo isso? A autora jogou todo o mistério fora e colocou a culpa em uma maldição que a cidade sofreu por causa do demônio da Hope, e graças a isso um monte de gente começou a morrer. Todo mundo que apareceu, que foi considerado suspeito, todos os subplots e descobertas… jogados fora. Resumindo o final, o suposto serial killer era na verdade o universo acertando as contas, e esse era o motivo dos adolescentes e pessoas de Dethaun serem tão problemáticos (incluindo a vontade de morrer e o suícidio da Hope, também são culpa do Universo, porque ela não deveria existir e o desejo de morte dela era uma consequência disso).
Um final maluco, mas que pra mim, nem é o grande problema. O grande problema é que para que esse final se tornasse minimamente “coerente” com tudo o que aconteceu no livro e não ter tantas pontas soltas, a autora devia ter desde o começo preparado melhor o terreno mágico da cidade ao invés de colocar só um demônio aprontando, e também poderia ter fechado os arcos que ela abriu do jeito certo antes do final chegar de verdade. Eu ainda me sinto indignada por ter sido obrigada a ler a Hope beijando o palerma do Dylan e a Brooke fazendo merda atrás de merda pra no fim tudo ser esquecido e deixado em aberto e ser culpa do Universo, quando poderia ser melhor.
E, por fim, como se não bastassem os problemas gerais da história, tem também a representatividade. Personagens não brancos? Inexistentes. LGBT+? O gay sumiu e nunca mais voltou (também culpa do universo). Pessoas com corpos diferentes também não existem porque o cast principal é bem pequeno, e as questões psicológicas e coisas de família, apesar de serem comentadas, também não são muito desenvolvidas.
No final, Baby Don’t Go se mostrou um livro de mistério um tanto medíocre, mas com uma escritora que definitivamente tem potencial para mais.