Fernanda631 05/07/2023
O Quebra-Nozes
O Quebra-Nozes foi escrito por o conto original: E. T. A. Hoffmann e o mais famoso Alexandre Dumas.
Não importa se você não curte a época do Natal ou não acompanha obras com essa temática, de uma coisa eu tenho certeza: o universo se encarregou de colocar alguma referência de O Quebra Nozes na sua vida. Muito provavelmente foram as músicas do ballet. Eu tenho certeza absoluta que você já as escutou.
O Quebra Nozes acabou se tornando uma das obras sinônimo de natal.
A história original, escrita pelo alemão E.T.A Hoffmann um famoso contista de sua época, conhecido especialmente pelos contos de terror. A segunda versão é a de Alexandre Dumas, autor de Conde Monte Cristo, Os Três Mosqueteiros e muitas outras histórias.
As duas versões são bastante parecidas, alguns poucos detalhes foram modificados, mas nada que altere o rumo dos acontecimentos. Algumas passagens possuem as mesmas falas, inclusive. O diferencial é a voz que cada autor tem ao narrar essa história.
A Magia e o Fantástico no Natal
Algumas histórias conseguem perdurar por gerações. Seu alcance se estende muito além da vida do autor. A história do Quebra Nozes já chegou até nós em muitos formatos. Aliás, julgo quase impossível algum de nós já não termos visto alguma de suas versões. Seja uma animação da Disney, um especial de natal de uma TV aberta, uma imagem de uma exibição de balé ou de teatro. Imaginar que ela foi concebida por um autor que geralmente escrevia narrativas sombrias ou de terror é algo chocante. A Jorge Zahar nos traz em um formato super luxuoso a versão original da história escrita por E.T.A. Hoffman e a versão que ficou mais famosa, um pouco mais leve, escrita por Alexandre Dumas. E logo de cara é impossível não comparar as duas versões.
Véspera de Natal e um Padrinho diferente
Marie e seu irmão Fritz estão na expectativa de ver quais presentes seu padrinho Drosselmeier irá trazer para este natal.
Passando rapidamente pela história, ela se passa em uma noite de Natal em que Marie e Fritz (e Lucie na versão de Hoffman) estão ansiosos para saber o que vão ganhar de Natal. Entre surpresas e desapontamentos, o senhor Drosselmeier chega até a casa deles, levando alguns brinquedos dos quais Fritz não se empolga muito. Mas, enquanto Fritz desdenha dos presentes do senhor Drosselmeier, Marie enxerga um pequeno boneco na estante de seus pais. Esse boneco desperta sua atenção. Quando chega a noite e todos se retiram para dormir, Marie vai se despedir do Quebra Nozes e aí a magia acontece: ele começa a se mover e perseguir alguns camundongos que infestam o quarto da família. O Quebra Nozes pede a ajuda de seus colegas brinquedos que o obedecem como a um general e aí a guerra tem início. Depois de uma louca e confusa noite, o senhor Drosselmeier conta a história da princesa Pirlipat, do Quebra-Nozes e da Noz Krakatuk. Mas, para isto vocês terão que mergulhar nessa fantástica aventura.
Marie percebe que o boneco, Quebra Nozes, precisará lutar contra o Rei Rato de sete cabeças.
Marie testemunha essa batalha épica e acaba se ferindo para proteger o Quebra Nozes. No dia seguinte ela conta o que houve para a a família, mas ninguém acredita nela. A partir de então, a menininha vai viver na tensão de ter uma casa ameaçada por um exército de ratos. Ou será tudo foi só sua imaginação?
E.T.A Hoffmann e o Reino dos Brinquedos
Começando a falar pelo original, Hoffman tem uma escrita bem mais sombria do conto. Isso aparece nas descrições e na maneira como ele conduz a narrativa. Marie parece ser uma menina mais solitária nessa narrativa com a família não lhe dando tanta atenção assim. Alguns momentos da guerra entre brinquedos e camundongos também é bem violenta.
Por ser um escritor de narrativas mais voltadas para o suspense e o terror, Hoffman causa apreensão no leitor. Não é aquela história mais bonitinha e mágica, algo que vamos ver mais na versão de Dumas. Aqui ele ressalta a importância da coragem e da persistência diante das adversidades.
A escrita de Hoffman tem um pouco mais de peso com algumas construções frasais sendo mais pesadas. Embora curta, a narrativa de Hoffman parece ser muito maior devido a essa maneira de conduzir a narrativa. Outra coisa curiosa é que os capítulos da história são mais curtos. Teoricamente isso se dava para dinamizar a narrativa. Mas, Hoffman não emprega os ganchos narrativos. Ele se foca mais em finalizar uma cena.
A primeira coisa que tenho que comentar foi meu susto ao ver que Marie tem apenas sete anos nessas versões. Eu sei que é uma história para crianças, mas para quem de alguma forma sabe o desfecho, vai concordar que a idade da nossa protagonista é bastante bizarra.
Passado o susto, vamos aos comentários sobre a versão original de Hoffmann. Eu gostei muito do tom que ele traz para a história, conversando diretamente com o leitor, sempre se referindo às crianças que provavelmente estão ouvindo aquela narração. Ela é mais curta que a versão de Dumas, mas acredito que traz uns detalhes mais coerentes para o desenrolar da história.
Mesmo sendo mais direta do que a outra versão, Hoffmann se detém mais tempo no Reino dos Brinquedos e essa é a parte que menos gosto, então para mim, ela foi um pouco mais cansativa. Mas isso é algo bem pessoal.
Alexandre Dumas, um mestre da narração
A versão de Dumas é muito mais amigável e reconhecível. Aliás, a Zahar optou por colocar esta versão mais moderna primeiro e no final a de Hoffman. Entendo que teoricamente seria o inverso a fim de comparação e ordem cronológica, mas a decisão foi acertada. Isso porque apesar de Dumas ser mais prolixo (sua versão tem quase duzentas páginas nesta edição de bolso enquanto que a de Hoffman tem pouco mais de 100), a narrativa nos faz conhecermos melhor os personagens e suas motivações.
Nesse ponto Dumas é um mestre construtor de personagens. Ele trabalha mais a relação de briga fraternal entre os irmãos, que os tornam mais reais. Quem não tem um irmão chato ou uma irmã enjoada com a qual se identificar? Fritz é um menino louco por exército e bonecos enquanto Marie é o protótipo das protagonistas de contos de fadas: inocente, ingênua e doce. Claro que isso cai no clichê do gênero, mas Dumas contorna isso com uma narrativa dinâmica e que não deixa tempo para respirarmos.
Mesmo um capítulo longo como o da história do Quebra-Nozes parece passar voando por nós. O final tem aquele quê de mágico e fantástico ao mesmo tempo. Embora seja exatamente igual ao de Hoffman, é a condução de Dumas que se destaca.
A versão de Dumas é uma versão estendida do conto original. Acredito que esse autor simplesmente não conseguia escrever pouca coisa. O livro começa com ele falando como acabou sendo obrigado a contar essa história durante uma festa e esse prefácio mostra qual será o tom de sua narrativa. O escritor francês dá uma esticada nos acontecimentos, mas a sua prosa tem todo um diferencial. Dumas sabia contar histórias! Ele prende o leitor, insere comentários e ironias e consegue ultrapassar a história de Marie e seu Quebra Nozes.