Lua 13/09/2022
Nesse livro bibliográfico, conhecemos Randy, um homem de meia idade que aparentemente vive o ''sonho americano''. Vindo de uma família tradicional, estudou Ciências da Computação, fez doutorado na área se tornando professor universitário, viveu anos solteiro até encontrar uma esposa já perto dos seus 40, teve 3 filhos (com pouca diferença de idade), frequentador da igreja, realizou diversos trabalhos na sua área, inclusive uma estadia de 1 ano da Disney, onde desde a infância passou diversas férias. Uma vida de sonho, até descobrir que estava com câncer terminal aos 47 anos.
Na certeza de que não ia chegar aos 48, se tornar ''eterno'' para além de sua morte, me parece que é o que move Randy. Ele até mesmo diz isso algumas vezes (não com essas palavras). Ele quer ser lembrado, quer transmitir ao mundo o que seus 47 anos lhe ensinaram. Quer deixar ensinamentos de como aproveitar e viver a vida, que ele não poderá transmitir aos seus filhos conforme crescerem. E é o que ele faz, em forma de palestra, e após o sucesso, em forma de livro.
Não acho a motivação de Randy algo errado. Na verdade, acho muito humano o fato dele querer vencer a morte ao seu modo. Ele quer controlar a presença na vida das pessoas mesmo depois de muito tempo em que seu coração parar de bater. Bem, faz 14 anos que ele faleceu e cá estou eu falando dele. Quem consegue esse tipo de presença no mundo? Definitivamente, poucos.
Mas conforme eu lia o livro, eu me senti desconfortável com as lições de Randy. Afinal, o que ele tem a dizer é o recorte da sua própria existência (homem, branco, hetero, rico, inteligente, cristão, americano, pai) e particularmente não conversa com a maioria das existências no mundo.
Mas terminei o livro inspirada, não pelas lições de Randy e sim pela sua própria atitude de sentir que tem algo para dizer ao mundo.
E mais ainda, me deixou imensamente curiosa: quais as lições de vida que uma mãe em uma zona de guerra poderia transmitir ao mundo? Ou uma criança órfã no norte da Índia? Ou de um bilionário na Grécia? Ou uma idosa indígena de 100 anos que aguarda a morte por velhice na América Central? Ou eu, quais as lições de vida que eu teria para transmitir no meu leito de morte?
Muitas realidades, muitas lições, todas elas verdadeiras. Lição número 1: tente ouvir todas elas.