douglaseralldo 29/07/2021
10 Considerações sobre Treinado para matar ou uma nova história sobre o fracasso
1 - No prefácio do livro narrando a jornada anticastrista de Veciana escrito juntamente com o renomado jornalista Carlos Harrison, David Talbot diz que o livro deve ser "lido por todos os que cogitam ou se preocupam quanto às incessantes aventuras imperialistas em que os Estados Unidos se envolvem, e como estas têm minado tragicamente a nossa democracia". Faz muito sentido tal alerta, pois que a narrativa em que Veciana rememora sua relação com Tio Sam enquanto tenta dar cabo de Fidel deveria, em tese, ser um alerta, pois ainda que carregue aqueles ares dos programas sensacionalistas que estimulam as conspirações, em ser o relato de alguém de dentro desse submundo, as estruturas e instituições americanas como a Cia - mais recentemente não esqueçamos a NSA - estão mais para Gestapos totalitárias que um instituição democrática; numa democracia real, a CIA e outras da sua laia, não deveriam existir;
2 - Tão essencial quanto a fala acima, também a da lembrança que este também é um livro da história de um fracasso. A expressão parece-nos cara ao ex-espião (falecido em 2020) pelas repetidas vezes que usa o texto de Che Guevara em seu diário sobre suas jornadas no continente africano. A frase soa para Veciana a confirmação de sua tese sobre Che, um fracasso. Veciana, e não que seja nesse sentido, talvez desconhecesse algumas problematizações possíveis da expressão fracasso, principalmente se tomarmos pensamentos da Escola de Frankfurt. Mas deixando isso de lado, retomando a questão do fracasso em seu sentido lato, poderíamos dizer que a história de Veciana é também a narrativa de um fracasso, pois que a despeito de toda sua tentativa de depor ou dar cabo de Fidel, hoje sabemos as conclusões;
3 - Porque o livro em grande parte trata disso, das tantas vezes em que as conspirações e os planos de Veciana não foram ao sucesso na tentativa de matar Fidel Castro. Mas para além desse "fracasso", a obra remonta peças de um quebra-cabeça que aborda um dos períodos mais estranhos e nebulosos da história humana. Um período que talvez nunca tenha cessado, mas que suas faces visíveis nos levam aos anos 60 e 70, a um pós-guerra temeroso de uma nova guerra, mas colocando em marcha novos tipos de guerras, não menos violentos, mas cujos crimes jamais são julgados, em grande parte nunca descobertos;
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