Ana 31/03/2021
Recebi Bruxa Akata em 2018, quando eu ainda era parceira da Record. Acabou que o tempo foi passando e o pobre ficou esquecido no limbo da minha estante, mas desde o final do ano passado eu tenho esse plano de ler meus livros encalhados — tá indo, devagar, mas tá indo, rs — e finalmente decidi dar uma chance para ele. O que mais chamou minha atenção foi essa atmosfera de magia e mistério que transborda até pela capa e nossa, tenho que admitir... Gostei demais!
Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que essa trama não é nada parecida com Harry Potter, num sei de onde as pessoas tiraram isso. Para mim, não faz sentido nenhum essa comparação, parece que não podem ver nada envolvendo magia que já puxam sardinha pra transfóbica, como se ela fosse a única que pudesse escrever fantasia de qualidade. Mas enfim, só queria deixar esse recadinho aqui antes de começar a falar de verdade sobre a história.
Bruxa Akata tem como protagonista uma jovem de 12 anos, Sunny. Ela é filha de nigerianos, mas nasceu nos Estados Unidos e, além disso, é albina. Possui todos os traços comuns do seu grupo étnico, os igbos, mas obviamente a cor da sua pele atrai olhares curiosos. Sabe quando a gente sente que não se encaixa em lugar nenhum? É exatamente isso que Sunny sente, até que descobre que é uma pessoa-leopardo e mais que isso, é uma agente livre, uma pessoa com poderes mágicos que nasceu de pais comuns.
Para completar esse enredo incrível, Nnedi Okorafor incluiu um vilão que age sequestrando crianças, e não é difícil imaginar que Sunny será uma das responsáveis por capturá-lo, juntamente com seus amigos Orlu, Chichi e Sasha. Porém, o ponto alto do livro é cultura nigeriana que a autora fez questão de abordar. Pesquisando um pouquinho sobre ela na internet, descobri que ela também é estadunidense com descendência africana, então suponho que tenha sentido uma necessidade muito grande de escrever essa história, para deixar claro que seu país de origem não apaga toda uma trajetória, né?
É claro que temos muitas passagens focadas nessa mitologia, mas é claríssimo que ela também tem muita influência na cultura africana, principalmente nos costumes e tradições. Como a protagonista é igbo, existem várias referências sobre essa cultura em específico, até mesmo na descrição das roupas, da culinária... Mas o povo efik também é bastante citado, já que Chichi pertence à esse grupo. São culturas riquíssimas e é interessante ver o quão diferente são das nossas. Os livros da Chimamanda Adichie também exaltam muito a Nigéria de forma geral, também indico bastante.
Também fiquei impressionada com a escrita de Nnedi Okorafor, é tão fluida e envolvente que eu mal via as páginas passando. Achei brilhante a forma como ela vai apresentando os conceitos e como eles se autoexplicam com o decorrer das páginas, ou seja, ela não precisa ficar parando a narrativa toda hora para explicar o que é um juju, por exemplo — e sim, se vocês quiserem saber o que é, vão ter que ler! Ah, várias vezes surgem palavras em igbo, que, na minha opinião, só ajudam no processo de imersão. Os capítulos curtos também ajudam muito!
É justamente por isso que acho que comparar Bruxa Akata com Harry Potter é uma tremenda injustiça, porque é uma trama muito, mas muito original. Eu gosto muito de Harry, vocês sabem bem disso, mas eu nunca tinha lido nada parecido com a criação de Nnedi Okorafor. A magia aqui é algo muito mais natural, mais sobrenatural, para falar a verdade. Ai gente, só lendo para saber mesmo, porque é muito diferente e criativo.
O final foi a única coisa que deixou a desejar, acho que podia ter sido melhor desenvolvido, menos corrido, com mais ação... Só que ao mesmo tempo deixa um gancho muito bom para a continuação, Akata Warrior, cujo lançamento está previsto para esse ano aqui no Brasil. Outro adendo que não tem nada a ver com a história e sim com a edição brasileira são os problemas de tradução racista, os mesmos que foram encontrados recentemente no primeiro volume de Cidade da Lua Crescente. Fica aí a sugestão para que a Galera Record revise também seus livros mais antigos.
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