Rute31 30/04/2024
Vidas Secas é um livro que sempre me despertou interesse, mas era um daqueles que eu vinha adiando. Esse ano eu pensei: chega, vou ler essa história. Já tinha lido Memórias do Cárcere, vários anos atrás, e sabia que gostava da prosa de Graciliano. Mas o que encontrei nesse livro foi uma pancada.
O livro é dividido em 13 capítulos, numa narrativa que apesar de linear não é sempre sucessiva (às vezes a distância entre um capítulo e outro são anos, e isso é sinalizado de forma muito breve).
Fabiano, Sinhá Vitória, os Meninos, Baleia. Esses são os retirantes. Por meio deles, conhecemos ainda seu Tomás da bolandeira, figura morta que representa o saber; o patrão, o soldado amarelo (representantes metafóricos do capital e do Estado). Nessa intrincada teia, Graciliano movimenta seus personagens com brutalidade e cautela, alternando a força no tear.
Sinhá Vitória quer uma cama, é seu desejo mais simples. Fabiano quer um pouco de terra, animais para cuidar. Os meninos querem saber o mundo. E Baleia queria dormir.
Não esperava uma leitura tão absurdamente comovente, embora Vidas Secas tenha acompanhado todo estudante que, como eu, devorava os livros de Português assim que os recebia. Aqueles trechos e recortes que levavam a questões me davam o tom da história, mas de modo algum me prepararam para amar Baleia, sentir pena dos meninos, me zangar com Fabiano, querer segurar as mãos de sinhá Vitória.
Vidas Secas é sobre teimosia. É sobre a insistência da vida.