Victor Prates 17/01/2023
Excelente mergulho na instabilidade da época
Esse é um exemplar perfeito para quem pretende sentir na pele a tensão ou a euforia dos participantes de uma das mais notáveis guerras que tivemos no interior de nossa instável república, o leitor mergulha de cabeça na borbulhante piscina que é São Paulo no fim da década de 1920 e início da de 1930. Agora, se você espera uma análise pautada na ciência histórica sobre os princípios dos agentes sociais envolvidos no conflito ou um profundo entendimento das motivações entre as diferentes classes sociais participantes, o autor pouco se demora nessas questões. Ainda nesse sentido, se o leitor espera entender o impacto da Guerra Civil Paulista numa média ou longa duração na política nacional, regional ou nas esferas sociais, essa também não é a proposta do livro. Afinal, o autor é um jornalista, e é óbvio que o estudo se fará sob tal abordagem: ele coletou relatos, diários, jornais antigos e outros meios de propaganda para, assim, exercer breves - mas interessantes - pinceladas sobre os 3 meses do conflito, pouco se aprofundando nos seus impactos ao longo do tempo. Ele recolhe fontes para tratar tanto do lado governista quanto do constitucionalista (ou paulista) exercendo, mesmo assim, uma notável inclinação para esse último - o que não prejudica, necessariamente, a proposta jornalística do livro. Pode ser útil, também, dizer o óbvio: é preciso um conhecimento decente sobre a geografia paulista, já que o número de mapas é insuficiente para um leitor leigo no assunto entender a localidade da infinitude de cidades citadas. A análise mais aprofundada sobre os impactos da revolta se pautam na memória que se tem sobre o conflito, exemplificada no surgimento de impávidos monumentos e nomes de ruas - além de pensões às famílias de veteranos. Não obstante, o autor parece ter uma clara motivação: demonstrar a pluralidade e diversidade do conflito no lado paulista, e isso ele exerce com maestria ao expor as vivências de universitários, bispos, trabalhadores de fábrica, donas de casa, jogadores de futebol, jornalistas, escritores e até empresários, fossem homens ou mulheres de diferentes etnias.