Gustavo195 11/02/2023
Relevante, mas problemático.
Essas mulheres na capa representam você?
É importante, e necessário, conhecermos a história de luta na conquista feminina pelo seu direito ao voto. O livro traz um panorama resumido do processo de conquista do sufrágio feminino - mas não universal -, intercalando resumos biográficos de personalidades que colaboraram nesse processo.
Não é um livro ruim. Não foge ao tema a que se propôs, mas é um livro incompleto e pobre. O livro menciona uma série de ativistas que participaram do movimento sufragista, dentre elas Olympe de Gouges, Mary Wollstonecraft, Nísia Floresta e Bertha Lutz - todas brancas. A autora prefere dar espaço até mesmo para homens brancos como José Bonifácio, Manuel A. Branco e John Stuart Mill em vez de ceder o espaço para mulheres indígenas e negras que também contribuíram com a luta de emancipação, como Antonieta de Barros, primeira mulher negra eleita no país, ficando Almerinda Farias a única mulher racializada mencionada nesta obra, servindo à Síndrome do Negro Único. São falhas como essa que fazem com que Bertha Lutz seja tão associada ao sufrágio brasileiro enquanto Almerinda Farias é esquecida.
A socióloga Najara Costa destaca que a onda feminista não tratava das pautas de luta das mulheres negras, que no Brasil de 1932, viviam em situação de extrema dificuldade, sem qualquer política de integração nem participação.
Enquanto as mulheres brancas lutavam pelos seus direitos, as mulheres negras estavam limpando para elas. A Dra. Katiúscia Ribeiro ressalta que essa igualdade que as mulheres brancas buscam não inclui as mulheres racializadas. "Eu quero buscar uma perspectiva de minha mãe que é Ewá, não quero buscar uma identidade performática construída por Simone de Beauvoir que depois eu pego, dou um corte e pinto de preto", menciona a professora. Sônia Guajajara, primeira ministra indígena do Brasil, também menciona a importância de que, além de políticas indigenistas, existam também políticas indígenas. Ambos os excertos demonstram a importância da atuação e representatividade de todas as mulheres na participação política.
Luiza Trajano, presidente administrativa do Magazine Luiza, chegou a ter uma fortuna equivalente a R$ 28 bilhões, enquanto que centenas de mulheres empregadas da empresa trabalhavam em jornadas exaustivas, sem tempo de ver os filhos, para gerar lucros para a corporação. Isso responde à pergunta: seu Feminismo inclui a sua empregada?
A luta feminista teve e continua tendo papel essencial no progresso da sociedade, mas enquanto o movimento não se associar ao movimento social pela emancipação das mulheres da classe trabalhadora e mulheres negras, indígenas e mulheres trans permanecerem negligenciadas, o movimento não será legítimo.
Reagindo a um video em que uma mulher branca caminha a frente de sua empregada negra, encarregada de carregar sozinha a bagagem e o bebê de sua patroa branca, Katiúscia Ribeiro destaca:
"Quando as mulheres brancas atingirem tudo que almejam na luta contra o patriarcado e chegarem a um lugar de igualdade com os homens brancos as mulheres pretas ainda estarão limpando para elas. Uma luta de gênero [Feminismo] é insuficiente para dar conta das violências que o racismo promove."