Fábio Yeshua 09/10/2022
Vamos matar um homem!
Ó, não é coisa tão complicada; os carrascos conhecem muito bem seu ofício. É necessário primeiro despir a vítima.
Quanto às roupas externas, é relativamente fácil. Mas quando chega a vez da túnica, que estava intimamente colada às feridas de Jesus, ao longo de todo o seu corpo por assim dizer, foi algo terrível; esse despojamento foi simplesmente atroz. Quem já tirou alguma vez um primeiro curativo colocado sobre grande chaga contusa e ressequida, sabe o que eu estou falando. Jesus tinha dezenas dessas chagas espalhadas por todo o corpo. Cada fio de lã está colado à superfície despida, e cada um que é retirado dá a sensação de que se está arrancando uma das inumeráveis terminações nervosas fixadas dentro da chaga. Esses milhares de choques dolorosos se adicionam e se multiplicam na proporção da quantidade das feridas existentes. Ora, não se tratava aqui de lesão local, mas de quase toda a superfície do corpo, e sobretudo daquelas lamentáveis costas. Os carrascos apressados fazem as coisas apressadamente. O sangue escorre de novo. Deitam-no de costas. Será que lhe deixaram a pequena faixa que o pudor dos judeus conservava nos supliciados? É provável que sim. As chagas das costas, das coxas e das panturrilhas se incrustam de poeira e de cascalho miúdo. Colocam-no ao pé do stipes, com as costas deitadas sobre o patíbulo. Os carrascos tomam as medidas. Um golpe inicial para preparar os buracos dos cravos, e a horrível operação começa.
Um ajudante estica os braços, com a palma da mão voltada para cima. O carrasco toma o cravo (um comprido cravo pontudo e quadrado, que perto da grande cabeça tem 8mm de largura), assenta-lhe a ponta sobre o punho, naquele vinco anterior que ele tão bem conhece por experiência. Uma única marretada e o cravo fixa-se na madeira, onde mais algumas outras pancadas acabarão de fixá-lo sólida e definitivamente. Jesus não gritou, mas seu rosto deve ter-se contraído horrivelmente. Sentiu uma dor inenarrável, fulgurante, que se espalhou por seus dedos, subiu como uma língua de fogo até as costas e prorrompeu no cérebro.
Bem sabemos que a dor mais insuportável que um homem possa experimentar é a do ferimento de um dos grandes troncos nervosos. Quase sempre acarreta o desmaio, o que é uma felicidade. No entanto, Jesus não quis perder a consciência. Se ainda o nervo tivesse sido inteiramente decepado! Mas, qual nada: ele fica apenas parcialmente destruído. A ferida desse tronco nervoso continua em contato com o cravo, e logo em seguida, quando o corpo for suspenso o nervo ficará fortemente distendido como uma corda de violino em seu cavalete. Ele vibrará a cada abalo e a cada movimento, renovando a horrível dor. Jesus experimentará isto durante seis horas.
Que martírio terrível. Após ler com atenção cada capítulo, é impossível sentir-se indiferente aos sofrimentos desse pobre nazareno que almeja apenas a paz para os seus.
Uma leitura esclarecedora com olhar clínico de alguém que sabe os processos de funcionamento fisiológicos e anatomicos do corpo.
Veremos em primeira mão cada etapa e resultado dos golpes físicos, psicológicos e injúrias de toda sorte sofridos por Jesus em seus dois dias de sofrimento que culmina com uma morte terrível e agonizante em uma estaca de tortura.
Tenha uma boa leitura.