Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018MaresiSabe aquele livro despretensioso que chega de mansinho e quando você termina acaba sendo uma história bem interessante? Então, eis Maresi. Eu confesso que sabia bem pouco quando me aventurei a fazer essa leitura, mas por ser uma fantasia com um foco mais “feminista”, achei que valia a pena encarar.
Aqui temos uma sociedade machista e patriarcal. As mulheres não tem voz e nem direitos, portanto, essa ilha se mostra um verdadeiro refúgio, mas que soa muito mais como uma lenda do que algo real. Porém ela realmente existe e, de tempos em tempos, alguma jovem consegue escapar de um destino cruel para se ver cercada de conhecimento e companheirismo. E é nesse cenário que conhecemos nossa protagonista: Maresi.
Ela, obviamente, tem sua própria história para contar e é com ela que aprendemos sobre esse local misterioso e como ele funciona. Maresi é bastante determinada e não faz de seu passado motivo para vitimismo ou reclamação. É algo que ficou pra trás e ela aproveita muito as coisas boas que a Abadia Vermelha lhe trouxe. E, é por isso que quando Jai aparece, a garota sente uma necessidade enorme de proporcionar a ela a mesma sensação.
“Algumas portas mantém você para fora, algumas guardam segredos e outras deixam algo perigoso trancado.”
O que é interessante aqui é que a autora consegue trabalhar muitas coisas em um número muito pequeno de páginas, e isso tem seu lado bom, mas também o ruim. Das coisas legais é que somos introduzidos em várias lendas e histórias que cercam esse local, além de transitarmos por situações bastante sérias sem o tempo de processá-las corretamente. Isso faz com que o leitor sofra o choque e já se veja obrigado a seguir em frente, de uma forma muito semelhante com a vida real. Nem sempre há tempo para se curar de algo que nos acontece porque a vida simplesmente não para pra nos proporcionar isso. Turtschaninoff trabalha questões de abuso psicológico, agressão física, direitos das mulheres, sororidade e várias outros pontos, com uma sutileza afiada.
E, pelo outro lado, a história sobreposta sobre isso acaba sendo bem simples, já que não há tempo ou espaço para se avançar muito. Mesmo assim, há várias surpresinhas que vamos descobrindo ao longo das páginas e um final que deixa o gancho para que o leitor fique curioso para ver o que virá em seguida.
“Por que falam de poder e não conhecimento? – Porque conhecimento é poder.”
Como um livro que foca no lado feminista de defesa das mulheres em uma situação de abuso e inferioridade, não é difícil supor quem será o vilão dentro dessa narrativa, e as consequências que isso pode ter sobre esse ambiente e as tantas que ali residem. É uma pequena metáfora na personificação de alguns personagens e na exposição de alguns atos.
Acho que como primeiro livro ele serve bastante para que a gente entenda como funciona um pouco da lógica desse mundo e desse local, já que é provável que ampliemos um pouco mais nossos horizontes daqui pra frente. Esse contexto me lembrou bastante a trilogia do Clã das Freiras Assassinas, que tem resenha de todos os livros por aqui, pelo formato de um lugar que proporciona aprendizado para mulheres. Nesse segundo elas se formam como assassinas, o que não é a questão em Maresi, mas por eu ter gostado bastante da obra de Robin LaFevers, certamente acabou colaborando com uma boa experiência com o título de Turtschaninoff.
A escrita da autora é muito fácil de se ler e a edição da Morro Branco está muito bonita. Há uma aplicação dourada na capa que se destaca e valoriza bastante o livro. O segundo volume, que se chama Naondel, já está disponível lá fora e, pelo que eu li, não vai acompanhar a mesma protagonista, sendo até uma história que aconteceu antes da encontrada aqui. Como tenho gostado desse estilo de mudança de ponto de vista, acho que será interessante adicionar mais detalhes a esse mundo.
Se você curte fantasia ou quer um livro fácil de adentrar, Maresi é uma boa história que trabalha várias questões sociais inseridas em sua trama como combustível para trabalhar o plot central. Fiquei com vontade de caminhar por alguns dos lugares dessa ilha, e espero muito em breve voltar a adentrar esse mundo.
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