Karini.Couto 03/04/2024
Em seu primeiro livro, publicado em 1968, Marina Colasanti deixa sua marca ao nos transportar através de suas palavras desbravando territórios do pensamento, numa prosa onde temos contato com a solidão e tudo que vêm junto. Falo do sentir, do ar melancólico ao descrever algo ou a si mesma, de emoções que transbordam através de suas páginas e nos faz refletir sobre aspectos das relações humanas, sentimentos, vulnerabilidades e sobre nós mesmos.
"... há uma mulher jovem que caminha só, que viaja só, que trabalha só, mesmo quando há ao lado a ilusão dolorosa de outras proximidades, a sensação pérfida do afago fugidio. Em tudo a frustração constante do que fica enquanto vamos ou do que morre enquanto teimamos em existir."
O tom da obra é melancólico, estar cercado de muitos e ao mesmo tempo estar só, alguém já se sentiu assim, ou ouviu de outro essa sensação?
Nessa obra temos uma divisão clara entre o presente (da época de sua escrita) e partes autobiográficas seguindo desde seu nascimento na África. Um livro que deixa claro a solidão ao observar tudo ao redor e o estar só em meio ao farfalhar de pessoas. Uma obra curta e tão carregada de emoções.
Lindamente escrito e descrito, poderia falar da jornada da autora ou da estrutura da obra, mas escolhi falar sobre os sentimentos e sensações. Sobre como me vi em algumas linhas... Como me sinto por vezes cercada de pessoas e ao mesmo tempo tão só. Como a solidão nos transforma, como muitas vezes ela é necessária, mas existe uma diferença gritante entre solidão e solitute, e as vezes essa solidão é sufocante!
"Sei que a tarde esteve agradável, porque, mesmo no sono, ouvi gritos alegres de crianças na rua. Se chegasse à janela, e me desse ao trabalho de afastar as cortinas pesadas, veria, na certa, um princípio de noite tênue e clara... Mas estou cansada e chateada, não tenho vontade de olhar paisagens lindas que me façam sentir ainda mais só; estou com vontade de ouvir bater na porta, abrir, sentar numa poltrona, e ficar conversando a esmo, sem pressa, nem hora, com outra pessoa, outra pessoa qualquer."
Me despeço dessa obra com muitas reflexões pessoais. O que é solidão para você?
site:
https://instagram.com/alempaginas