Rafael 18/12/2021
"É regra invariável do poder que, às cabeças, o melhor será cortá-las antes que comecem a pensar, depois pode ser demasiado tarde".
Considero complexa a tarefa de emitir uma opinião sobre o livro "Ensaio sobre a Lucidez”, uma vez que, a obra ao chegar ao seu final me causou uma incomum sensação de frustação. Essa resistência, talvez, possa ser justificada pelo recente término da leitura, sendo necessário quem sabe mais tempo para digeri-la. A genialidade do autor é indiscutível, seu humor típico que percorre todo o livro e a facilidade com que é capaz de prender a atenção do leitor por meio de histórias que remetem a eventos singulares, com consequências bem narradas e amarradas. Saramago está entre os grandes, sem dúvida. Entretanto, preciso desabafar que, o sentimento em relação ao primeiro livro (Ensaio sobre a cegueira) foi exatamente o oposto. Essa obra que resenho me levou desde o seu início a criar muitas expectativas positivas que conduziriam a um final memorável, todavia, quando esse momento chegou, a inconformidade prevaleceu. Acredito que não tenha sido o único. Paciência, assim é a vida real. OK. Não quero ser inconveniente e dar spoilers a quem ainda não teve a oportunidade de ler esse bom livro. A história é curiosa e original. O tema, uma peculiar revolução democrática, espontânea, sem lideranças instituídas (aparentemente), que toma conta da capital de determinado país, onde a população, em massa, decide votar em branco, dá margem ao leitor para ter esperanças que a voz do povo será ouvida e que dias melhores seriam possíveis. Entretanto, como é de se esperar, quem está no poder não ficará nada contente com a situação narrada e não poupará esforços para acabar com a ameaça ao poder consolidado e estabelecido. Ah! Cabe destacar que tudo isso se passa no mesmo cenário em que a cegueira branca se espalhou caoticamente quatro anos antes, e conta com personagens em comum da última narrativa. Sempre vale a pena ler Saramago!