esquisiticespacial 10/02/2024
Gideon
Terminei de ler esse livro exatamente três dias antes de completar um ano que eu comecei a leitura. Não sei explicar o motivo pra eu ter demorado tanto nessa leitura, só sei que essa obra me acompanhou o ano passado inteiro. Não importa o livro que eu estava lendo, esse sempre estava lá como uma tela de fundo, e sempre que chovia eu largava todo e qualquer livro para ler esse. Hoje, depois de muito tempo, choveu. E a leitura terminou.
Vejo muita, muita gente falando mal desse livro, e eu não amo ele exatamente, mas não odeio também. Acho que o problema de verdade é que as pessoas lêem ele pensando que vão receber um romance (e infelizmente acho que esse era o real objetivo do autor), mas eu nunca pensei nessa história como um romance. Desde o início sempre pareceu outra coisa, mas eu não sabia explicar antes.
O principal fator que incomoda os leitores (de resto é só o fato de que a história é meio esquisitinha mesmo), é a diferença de idade dos protagonistas. São sete anos, com um deles sendo menor de idade.
Tem uma expressão em inglês ? que eu não tenho a menor ideia de como poderia ser traduzida para o português ? que é ?grooming?. Significa basicamente: quando alguém constrói um relacionamento, confiança e conexão emocional com uma criança ou jovem para que possa manipulá-lo, explorá-lo e abusar dele.
Para mim é sobre isso que o livro trata.
O que aconteceu entre o Elio e o Oliver NÃO foi um amor de verão, e não é só porque o cenário é bonito, eles lêem poesia, e tem monólogos longos e bem articulados, e falam sobre história, e andam por Roma que torna as coisas menos piores. O livro e o filme são muito bonitos sim, mas a história desses personagens não é.
Tem uma cena perto do fim do livro ? quando o verão já havia chegado ao fim e o Oliver estava de volta só para visitar ?, em que o Oliver está andando com a Vemini e o Elio fica mais pra trás observando eles. E de repente ele pensa sobre como os anos que separam ele da Vemini são a mesma quantidade de anos que separam ele do Oliver. E nesse momento ele diz que sentiu o seu estômago se revirar e vontade de vomitar, até porque a Vemini é uma CRIANÇA. Mas neste momento em específico eu senti uma espécie de esperança muito grande pensando que o Elio ia finalmente perceber o que tinha acontecido com ele. Mas não percebeu.
O Elio ? como ele mesmo já admitiu pro próprio Oliver no livro ? idolatra o Oliver. Idolatra demais. Chega em pontos do livro em que ele pensa tanto mas tanto no Oliver que ele começa a enganar a si mesmo dizendo que ?nem se importa mais com ele de qualquer forma?, mas ele se importa sim, ele se importa mais do que seria capaz de admitir para si mesmo e continua a se importar depois de VINTE ANOS.
Não vou entrar muito a fundo no assunto da trilha sonora do filme, como ?Visions of Gideon? e a mitologia e toda a história de Gideon idolatrando Deus e não importava o quanto ele chamava, Deus nunca respondia. Se eu fosse falar sobre cada coisinha isso ficaria muito maior do que já está, mas preciso concluir de alguma forma.
Tudo que falei aqui foi minha interpretação, infelizmente. Eu não acredito que esse tenha sido o verdadeiro objetivo do autor quando escreveu o livro. Se tivesse sido, o livro certamente mereceria mais estrelas. Mas como não é o caso, duas e meia estão de bom tamanho. Duas estrelas e meia, não pela história em si, mas sim pelo espaço que ela deixou para interpretação do público.