spoiler visualizarHugo 30/04/2020
Eu estava querendo ler as Brumas há uns meses, uma amiga minha tinha me recomendado e eu tinha adorado a premissa. Ganhei do meu namorado o livro em volume único e foi o empurrãozinho que me faltava.
Mas enfim, vou deixar aqui meu pensamento geral sobre a obra. Antes de começar a leitura eu achava que o livro era X e depois de ler ví q era Y, e isso não é ruim xD
Eu tava esperando magia, magia, magia, feitiço, feitiço e avalon, hahahahahaha. Recebi uma trama maravilhosa com uma boa pitada de politicagem, discussão sobre o feminismo, discussão sobre sexualidade e discussão sobre religião. Marion conseguiu colocar isso tudo no livro sem deixá-lo maçante.
Aprendemos a odiar a Gwen durante o livro, mas fazendo uma análise crítica a gente percebe claramente que a Gwen é apenas uma alegoria do religioso fanático hipócrita. Ao mesmo tempo que ela se mostra 100% cristã e casta, além de repudiar firmemente a Deusa e tudo relacionado ao seu culto, a mesma se encontra apaixonada por outro homem que não é o seu marido e, sempre que é conveniente para si, acaba recorrendo a Morgana e seus conhecimentos com feitiço ou cura (bem como vários outros personagens cristãos do livro).
Lancelote, Arthur e Gwen performam uma trama incrível também. Arthur e Lancelote se amam, porém, devido à época em que viviam e aos conceitos cristãos impostos a eles, os mesmos se veem obrigados a suprimir isso o máximo possível e tentam desesperadamente dar mais vazão pela paixão que ambos também sentem pela Gwen (em menor ou maior escala).
Viviane, Morgana e Arthur protagonizam, ao meu ver, um dos pontos principais da obra, que é entender que nós, como humanos, temos nossas limitações e precisamos reconhecê-las.
Viviane luta desesperadamente para impor sua religião sobre os outros (olha o fanatismo religioso) e justifica sempre suas ações como em nome da vontade da Deusa, entretanto, durante a trama ela mesma chega a questionar algumas vezes se ela realmente age de acordo com a vontade da Deusa ou se é a vontade própria que está camuflada. Mesmo assim, Viviane treina Morgana para seguir seus passos.
Morgana, com medo de decepcionar sua mentora e sua Deusa, cai na mesma armadilha que Viviane caiu. Se sente sempre obrigada a guiar o povo para o destino que ela acredita ser o certo e move mares e montanhas por isso, afetando a vida de todos aqueles que forem necessários, tudo pelo bem maior ditado pela Deusa ou simplesmente pelo fato de que isso foi imposto a ela e é também a sua vontade.
Arthur é a exemplificação do dito popular "Não se pode agradar a todos". Ao mesmo tempo que ele se sente no dever de respeitar e proteger Avalon, ele também precisa fazer as vontades de Gwen e do padre da corte, bem como lutar pela paz no seu reino e juntar em sua corte todos os reinos menores.
No fim, dada toda a trama, a briga de poder e os esforços imensuráveis de Viviane, Morgana e Arthur, a gente espera que no fim tudo dê certo, tudo se resolva.
Entretanto, Marion nos dá um tapão na cara, mostrando a realidade nua e crua, onde Viviane morre, seu grande plano fracassa, Morgana fica sozinha, Avalon se perde nas Brumas (até Camelot fica ameaçada) e Arthur morre nos braços da irmã e se torna nada mais que uma lenda (como já sabemos desde o primeiro depoimento de Morgana).
E quando no próprio diálogo final do livro (não lembro se era um diálogo de Morgana e Arthur ou se era apenas o pensamento da mesma), nos deparamos com a seguinte questão: "Foi tudo em vão?".
A resposta é: "Não!". No final, nós e a própria Morgana, percebemos que a nossa natureza humana nos dá limitações. Nessa posição nós não somos capaz de falar propriamente por deuses e muito menos de moldar 100% o caminho do mundo e de compreender 100% dos planos e desejos das entidades superiores que acreditamos.
Mesmo embora Avalon tenha se perdido completamente nas Brumas e a linha de sucessão do posto máximo da ilha tenha ruído, a Deusa continuou presente, do jeito que ELA queria. Mesmo embora Arthur não tenha trazido a união dos povos, o mesmo conseguiu trazer paz para aquela terra por bons anos... e por aí vai.
Enfim, isso é só uma leve pincelada desse LIVRÃO! Adorei a leitura, me proporcionou diversas reflexões interessantíssimas e me deixou com o gostinho de saudade quando acabou. (Me arrancou até lágrimas na cena de morte do Arthur).
PS: Devo fazer também uma menção honrosa a Morgause, uma das personagens mais complexas. Mesmo embora tenha se mostrado a grande vilã, guiada pela própria ambição, também demonstrou seus momentos de carinho e amor para com aqueles que ela amava e respeitava.