Anderson.Fernandes 06/08/2021
Bolcheviques Comunistas
Os Romanov, o fim da dinastia
Robert K Massie
Primeiro livro de uma série de leitura que eu montei com o objetivo de obter conhecimento e conteúdo para estudar a revolução socialista e a sociedade na Rússia.
O livro começa descrevendo os detalhes da execução da família Romanov, em Ekaterinburg, na casa Ipatiev. É um chute na porta.
Na segunda parte ele descreve pormenorizado como foi todo o trabalho técnico-científico para provar que aqueles ossos eram de fato os ossos da família Romanov. Então envolve idas e vindas de técnicos da Inglaterra, EUA, Moscou, chatices de burocracia, orgulho Russo que não queria técnicos americanos fizessem exames de DNA e outras bobagens de gente besta.
Na terceira parte fala sobre Anna Anderson. Ela alegava ser Anastácia Romanov. Falava russo e francês. Sabia de informações particulares da família Romanov. Era tida por muitos como a verdadeira Anastácia. Por outros era tida por uma embusteira. O livro detalha uma extensa e árdua batalha burocrática para fazer um exame DNA após a morte da mesma. Acontece que ela foi cremada e a única peça disponível era um toco de intestino de uma operação que ela havia feito alguns anos antes de falecer. Era tanta burocracia e tanto burocrata querendo impedir a execução do trabalho de exame de DNA que a partir daí o livro ficou entediante para mim. Burocracia chata e gente atrapalhando só por atrapalhar mesmo, nível Brasil. Enfim, após os testes conseguiram comprovar que o DNA não era compatível com o dos Romanov. Era uma embusteira. Conseguiu viver décadas à custa de uns ricos trouxas que achavam estar hospedando a herdeira russa em sua mansão.
Na terceira e última parte fala sobre os restante dos Romanov, descendentes que fugiram ou sobreviveram aos bolcheviques. Interessante esta parte. Basicamente ninguém ficou na Rússia e ninguém quer voltar pra lá. Pelo o que eu me lembro, segundo as regras dinásticas russas, nenhum deles tem mais direito ao trono russo, por haverem se casado com plebeias. A lei dinástica russa exigia casamento entre nobres e herança somente através do filho masculino. Um dos príncipes, Rotislav Romanov, nasceu e cresceu em Chicago, para ele a sua cultura é a América e não tem nenhum plano de retornar à Rússia.
Em síntese, o início e o fim do livro são bem interessantes. O meio que envolve luta judicial e detalhes pormenorizados de análises de tecidos de DNA achei bem maçante.
O que mais me impressionou foi a brutalidade dos bolcheviques, tanto os ordenantes da execução como aqueles que a executaram e também a sacanagem do governo bolchevique, negando por vários anos e anos, na cara de pau, que tinham executado sumariamente toda a família. Você aí que confia no governo abiguinho, o governo tá nem aí para você. Se ele precisar divulgar desinformação e mentiras para se beneficiar, ele vai divulgar desinformação e mentiras sim.
Segue abaixo alguns trechos destacados por mim:
[...] Somente seis meses depois, em janeiro de 1919, teve início uma investigação minuciosa quando o almirante Alexander Kolchak, “Chefe Supremo” do Governo Branco da Sibéria, confiou a tarefa a um investigador jurídico profissional, de 36 anos, achamado Nicolai Sokolov.
[...] O governo soviético lançou a mentira que continuou a sustentar para os estrangeiros durante os oito anos seguintes. Em 20 de julho, Karl Radek, chefe do Departamento Europeu do Comissariado do Exterior Bolchevique, informou ao conselheiro alemão a possibilidade de que os sobreviventes obtivessem a liberdade “por motivos humanitários.
[...] um jornalista estrangeiro perguntou a Chicerin se o governo bolchevique havia matado as quatro filhas do czar. Chicerin respondeu “O destino das quatro filhas me é desconhecido. Li na imprensa que elas estão na América.” Em 1924 Nicolai Sokolov [...] publicou seus achados e conclusões num livro editado primeiro em francês e depois em russo. O livro, inquérito policial sobre o assassinato da família imperial russa, [...]
[...]
A mãe de Nicolau, a imperatriz viúva Maria Feodorovna:
Embora tivesse contribuído financeiramente para o trabalho de Sokolov na Sibéria, ao saber que ele acreditava que toda a família havia morrido, ela se recusou a recebe-lo, a aceitar seu dossiê e sua caixa de relíquias. Até o dia de sua morte, em outubro de 1928, Maria teimou que seu filho e a família estavam vivos.”
Em 1926, após oito anos negando ter qualquer conhecimento do paradeiro da família imperial, a credibilidade de Moscou sobre o assunto foi desfeita pelas fotos e detalhes no livro de Sokolov. Além disso, os tempos haviam mudado: já não existia o interesse dos alemães pela princesa alemã, Lênin tinha morrido, e Stalin, seu sucessor, demonstrava um apreço cada vez maior pela natureza revigorante da crueldade. Assimm, uma versão soviética do livro de Sokolov, The Last Days of Tsardom, foi autorizada. Escrito por Pavel M. Bykov, novo diretor do Soviete do Ural, [...] admitia que Alexandra, assim como seu filho e suas filhas, havia sido assassinada junto com Nicolau.
[...] Em 1935, Leon Trotsky publicou seu Diário do exílio. Forçado por Stálin a se exilar, o ex-líder bolchevique relata a ligação entre Lênin e Sverdlov, que autorizou o massacre em Ekaterinburg, e o Soviete do Ural, que determinou a hora e o método de execução.
O domínio bolchevique na Rússia se intensificou e a revolução aprecia ser permanente. Cidades famosas foram renomeadas em homenagem a seus heróis: São Petersburgo virou Leningrado, Tsaritsyn virou Stalingrado e Ekaterinburg virou Sverdlovsk.
[...] Geli Ryabov fazia outra descoberta importante. Com a ajuda de amigos de Avdonin nos Urais, ele tinha localizado o filho mais velho de Yakov Yurovsky, o chefe dos assassinos da família imperial. Em 1978, Alexander Yurovsky, vice-almirante reformado da Marinha Soviética, morava em Leningrado. Quando Ryabov se encontrou com ele, Yurovsky filho fez algo extraordinário: entregou ao cineasta uma cópia do relatório que seu pai enviara ao governo soviético sobre a execução e a disposição dos corpos dos Romanov. O relatório original estava nos documentos secretos do Arquivo Central da Revolução de Outubro, em Moscou, e uma cópia tinha ido para o historiador soviético Mikhail Pkrovsky, sem autorização para publicar uma palavra sequer. [...] O relatório de Yurovsky preencheu as lacunas e corrigiu os erros de Sokolov e Bykov.
“Na manhã de 17 de julho de 1918, depois de matar os Romanov e jogar seus corpos na mina dos Quatro Irmãos, Yurovsky retornou a Ekaterinburg para fazer o relatório. Para seu horror, encontrou a cidade fervilhando de comentários sobre o local em que os corpos da família do czar haviam sido escondidos. Obviamente, os homens de Ermakov tinham dado com a língua nos dentes. Era preciso encontrar rapidamente outro local para enterrá-los; o Exército Branco já estava chegando muito perto. Ignorando Ermakov, Yurovksy pediu ajuda a outros agentes locais. Disseram-lhe que havia minas muito profundas ao longo da estrada para Moscou, a trinta quilômetros dali.
[...] Os corpos foram colocados no buraco e ensopados fartamente com ácido sulfúrico de modo a não serem reconhecidos e impedir qualquer odor de decomposição. Enchemos de galhos e de cal, cobrimos com madeira e passamos o caminhão por cima diversas vezes – até não restar vestígio do buraco. O segredo foi bem guardado – os Brancos não encontraram o local do sepultamento.”
[...] DNA Mitocondrial é herdado independentemente do DNA nuclear; enquanto o DNA nuclear é herdado metade do pai e metade da mãe, o DNA mitocondrial é herdado exclusivamente da mãe. A transmissão de mãe para filha é intecta. “passando imutável de geração em geração como uma máquina do tempo” [...] Portanto como ferramenta de identificação, o DNA mitocondrial pode ser usado para identificar uma mulher em qualquer ponto da cadeia vertical de descendentes mulheres. [...] A irmã mais velha da [imperatriz] Alexandra, princesa Vitória de Battenberg, teve uma filha que se tornou princesa Alice da Grécia. A princesa Alice, por sua vez, teve quatro filhas e um filho. Em 1993, apenas uma dessas filhas, a princesa Sofia de Hanover, estava viva. O filho era o príncipe Phillip, que se tronou duque de Edimburgo e consorte da rainha Elizabeth II da Inglaterra.
[...] Em 1916, a irmã mais nova de Nicolau II, a grã-duquesa Olga, casara-se com um plebeu, o coronel Nicolai Kulikovsky. Olga teve dois filhos, Tikhon, nascido em 1917, e Guri, em 1919. Em 1948, Olga e família foram morar no Canadá [...]. O Sr. Kulikovsky se recusou a cooperar [...], Ivanov recorda. “Ele disse: Como você, um russo, pode estar trabalhando na Inglaterra, que foi tão cruel com o czar e com a monarquia russa? Por razões políticas, nunca darei uma amostra de sangue, nem de cabelo, nem de nada”. Ivanov ficou decepcionado, mas não desistiu. “Na época, era crucial”, Ivanov disse. “Ele era o parente mais próximo. Gastei um dinheirão do meu próprio bolso falando com ele e a esposa por telefone, garantindo que eu não era um agente da KGB. E eles responderam: “Então, a única razão dessa investigação só pode ser para provar que Tikhon Nicolaevich não tem sangue da realeza.”
[...] voltaram a estudar a árvore genealógica da família. Como a cadeia similar de DNA mitocondrial é repetida indefinidamente através de gerações femininas, concentraram-se nas mulheres de sangue mais próximo ao do czar Nicolau II. [...] A irmã do czar, grã-duquesa Xenia, teve uma filha, a princesa Irina, que se casou com o príncipe Felix Yussoupov, famoso por ter assassinado Rasputin. Tiveram uma filha, também chamada Irina. Essa segunda Irina se casou com o conde Nicolau Sheremetyev, com quem teve uma filha chamada Xenia. Ao se casar, a jovem condessa Xenia Sheremetyeva passou a se chamar Xenia Sfiris.
[...] Os cientistas de Aldermaston concluíram que o czar Nicolau II tinha duas formas de DNA mitocondrial, um que correspondia exatamente ao de seus parentes e outro, num único ponto, que não correspondia. Essa rara condição é conhecida como heteroplasmia.
[...] A igreja seria chamada Catedral do Sangue Derramado para “simbolizar a penitência da sociedade e expurgar as ilegalidades e as repressões desmedidas que foram infligidas durante os anos do bolchevismo.”
[...] Lênin não queria a oposição consolidade em torno de um único sucessor de Nicolau. Então, deixou que todo mundo ficasse imaginando quem teria morrido e quem estaria vivo. [...] Lênin operou em duas frentes: matou todos os membros da família imperial e muitos outros Romanov, e lançou a idéia de que alguns da família nuclear permaneciam vivos. Mais tarde, quando o poder soviético ganhou força, quando a possibilidade de uma contrarrevolução monarquista ou de qualquer outra havia desaparecido, os comunistas ficaram à vontade para anunciar o que tinham feito. Não só anunciar, mas se gabar do fato de que tinham matado crianças.
[...] Lendas se originaram e foram nutridas pela “desinformação” falada, publicada e difundida pelo governo de Lênin: Nicolau fora morto, mas sua esposa e filhas estavam a salvo, [...] O Kremlin não sabia onde estavam as mulheres, tinham desaparecido no caos da Guerra Civil. O ministro das Relações Exteriores supunha que elas estavam na América. Essa torrente de desinformação continou até- como o investigador Soloviev observou – o regime se sentir seguro o bastante para se vangloriar de que todos, inclusive as filhas, tinham sido assassinados simultaneamente. [...] pouca gente fora da União Soviética acreditava em qualquer coisa que o governo soviético dissesse.
[...] Menos de 24 horas após a família imperial ter sido assassinada, mais seis Romanov foram mortos em Alapayevsk, a 200 quilômetros de distância de Ekaterinburg. Foram a grã-duquesa Elizabeth, de 54 anos, irmã da imperatriz Alexandra, o grão-duque Sergei Mikhailovich, de 49 anos, os três filhos do grão-duque Constantine: príncipe John, de 32, príncipe Constantine, de 27 e príncipe Igor, de 24 anos, além do príncipe Vladimir Paley, de 21 anos, filho do casamento morganático do grão-duque Paulo, tio de Nicolau II.