Felipe 18/08/2023ObserveAntes de pintor, engenheiro, cientista e outras mil denominações, Leonardo era um ser humano extremamente curioso. Seu interesse pela vida e como ela funciona é, ao meu ver, a maior obra de arte que nos deixou. Durante o dia, se fascina pelos menores detalhes do cotidiano humano, se perguntando o porquê aquela pessoa desviou o olhar daquela forma, ou quantas vezes esse certo pássaro bate as asas por segundo.
De certo Leonardo fazia tarefas monótonas. Ficar na fila do mercado local, limpar o pó dos livros que havia adquirido e que nem se quer tinha lido ainda. Todas essas coisas corriqueiras fazem parte da vida humana, ninguém pode ser pretensioso ao nível de achar que em todo momento do dia estará realizando uma observação de algum fenômeno grandioso ou trabalhando em algo engrandecedor. Porém, duvido muito que Leonardo ficasse entediado mesmo fazendo essas coisas. Como nós, ele era humano, e possuía um cérebro capaz de realizar conexões inusitadas e criar hipóteses extravagantes. Enquanto delicadamente tirava a poeira dos livros, é possível que Leonardo estivesse observando que certas partículas pareciam brilhar mais do que as outras. Na fila, enquanto aguardava sua vez, talvez observasse atentamente as rugas no rosto de um senhor, tentando imaginar o motivo da pele se dobrar daquela forma com o tempo.
É esse interesse pelo comum, pelo o que parece ser banal e apenas um devaneio, que fez Leonardo ser quem ele foi e produzir o que produziu.
Já velho, Leonardo ainda buscava aprender com outras pessoas relações geométricas do triângulo retângulo, ficava horas observando como a luz interagia com determinado tecido para dar mais uma fina pincelada em um dos seus quadros. Enquanto respirasse, um dos homens mais criativos da humanidade estava fadado a ser um eterno aprendiz. Julgando-se pequeno diante da sua maior professora, Leonardo ainda tentava compreender a Natureza.
Das muitas lições da vida que são possíveis tentar aprender com Leonardo, a observação e a fascinação pela vida foram as maiores para mim. Contemple o céu com um misto de apreciação e curiosidade. Aprenda a física do voo, mas tente sentir a graciosidade do bater das asas. Crie hipóteses suas, com o que você sabe do mundo, e se deixe levar pela beleza de tentar entender a vida. Mas jamais deixe de se espantar. Compartilhe com quem você gosta o que pensou sobre algo. Se fascine e aprenda com o que a outra pessoa também pensou. Ser pedante é morrer em vida. É se fechar para o mundo exterior e ficar preso em sua própria casca mortal. Nada ultrapassa essa barreira do ego criado por alguém. E essa pessoa morre seca, árida, sem ter sido renovada pelo vivificante sopro da eterna humildade perante o cosmos e os outros microcosmos que andam ao nosso lado.
Ideia antiga essa, seja humilde, seja curioso. Sócrates e outros antes dele já tinham dito. Mas Leonardo a concretizou em suas muitas anotações sobre tudo o que o sol - de sua imaginação - tocava.
"Nem tudo precisa de linhas bem definidas."