Clio0 22/03/2021
Marcos Rey é considerado por muitos como um dos maiores escritores da literatura infantojuvenil no Brasil e não é por menos.
Bem-Vindos ao Rio conta a história do sequestro de Cláudio e Pat por uma gangue adolescente. Mas esse é apenas o fio narrativo, que apesar de ótimo, não é nem a metade do mundo que o autor retratou.
Problemas sociais são na verdade o mote do livro. A gangue inteira pertence a um grupo de adolescentes favelados negligenciados pela família e pelo Estado. A composição dos personagens é extremamente interessante pois temos, ao mesmo tempo, a crítica e a referência.
Por exemplo, as duas vítimas são de classe média baixa - um do Paraná e a outra de Brasília (polos econômicos e sociais) - que apresentam o contraste com os marginais, todos crianças carentes do Rio.
A própria gangue merece um comentário a parte. Temos o líder intelectual, Baixo, que é incapaz de progredir pois a miséria de sua condição age como um entrave. Tereca, a namorada de Baixo, se apresenta como a versão estereotipada da garota do morro. Namorada de traficante. Incapaz de sair de sua condição oprimida.
Baden faz a vez de artista, um óbvio aceno a rica produção cultural em morros, também uma crítica a tantos projetos sociais que visam apenas a formação artística ou esportista e pouco contribuem para a formação intelectual ou de profissional de base.
Nariz, o outro líder da gangue, é uma leve menção ao tráfico de entorpecentes (seu apelido era uma antiga gíria para usuários de drogas) e é o personagem mais violento do grupo - responsável por seu fim a la noticiário das seis.
Há outros personagens e situações que poderiam ser citados, mas já é possível observar a riqueza do texto do escritor.
Seria mais interessante ainda se esse livro não fosse, infelizmente, tão atual.