Cassiel 24/03/2023
Apanhadão
O livro, que recebe título ? Reinvenção da Intimidade ? e subtítulo ? Políticas de sofrimento cotidiano ?, é uma coletânea de capítulos relativamente curtos, mas muito ricos em conteúdo: ensaios sobre a solidão; observações e recorrências baseadas na experiência clínica do autor; discussões sobre as influências dos meios digitais e da vida neoliberal sobre os "sofreres" da mente humana, entre vários outros. Eu talvez discorde um pouco da hierarquia criada por esse nome, e eu inverteria o título e seu subtítulo.
De todas as sessões que dividem o espaço da obra, minha favorita é "Sofrendo com o outro", mas todas são recheadas de ideias provocativas e interessantes. Aqui encontramos reflexões que podem explicar certas afirmações curiosas (que eu depreendi da leitura, espero que corretamente) tais quais "a felicidade é um fator político, medido através da gramática hegemônica do reconhecimento, que reconhece, mas também invisibiliza formas de sofrer, ou seja, sabemos o quanto estamos felizes pelo quanto não estamos sofrendo". Ou ainda "o sonho de qualquer patrão, no cenário neoliberal que, para além de um modelo econômico pontual, é também uma forma de vida que afeta as funções psíquicas dos sujeitos, é que seus funcionários vivam eternos episódios maníacos".
Se essas formulações te incitam a necessidade de um maior desenvolvimento, sugiro que leia o livro! Eu, particularmente, me senti meio perdido no começo, mas mais ao final do livro todas as peças começam a se encaixar, e as ideias do autor, em torno da inscrição dos sofrimentos dentro de modelos narrativos amplos que podem facilitar a vida clínica se torna mais clara e fundamentada.