Resenhas - Imodéstia Capricho Inclinações

Pablo Paz 03/03/2020

Para iniciados e/ou pretensiosos
Comprei-o pela beleza do trabalho editorial, mas o conteúdo do livro é tão chato que o melhor dos resenhistas não conseguiria nem dar spoilers. Não há enredo e falta nexo entre os capítulos. É mais um livro para acadêmicos, melhor dito, para críticos, e menos para um público geral. Na minha modéstia opinião de leitor, diria que o livro se encaixa naquela tradição de obras 'de escritor para escritor', como dizia Umberto Eco, cuja preocupação com a Forma (formalismos) chega a desprezar o
prazer que se pode ter com uma boa narração, como acontece com algumas obras de James Joice, Faulkner e, entre nós, Guimarães Rosa, Clarice Lispector etc. Um livro para 'iniciados'. Outros, mais sarcásticos, diriam: para 'pretensiosos'...

Daniel 22/08/2017

Só diálogos
Depois que li "A Biblioteca da Piscina", do Alan Hollinghurst, fiquei bastante curioso para ler alguma coisa do Ronald Firbank, que é praticamente endeusado por um dos personagens deste livro.

Fiquei bastante entusiasmado com esta edição LINDA da Carambaia, (a sobrecapa reproduzindo uma obra do Joseph Stella é maravilhosa), reunindo três livros do autor. Mas a leitura se mostrou bem mais difícil que eu esperava. As tramas, ou enredos são muito tênues, e a coisa toda é conduzida por meio de diálogos, as vezes divertidos, mas também por hora cansativos, das personagens. Há frases genais aqui e ali, e algumas tiradas de fato memoráveis. A sociedade inglesa é a todo momento ridicularizada por seu puritanismo. Acredito que eu devo ter perdido ou não entendido metade das ironias do texto. Não é à toa que se trata de um escritor meio obscuro, para poucos.

Mas que é um livro lindo... Isso é, rs.

Elvis.Faria 22/08/2017

Imodéstia

Escrita em 1915 com o título original em inglês de Vainglory, a primeira novela de Ronald Firbank foi escrita no período da Primeira Guerra Mundial, quando Firbank buscou isolamento para dedicar-se a sua criação.
A maior dificuldade é acostumar-se com os diálogos sem lógicas, que trocam de personagens o tempo todo. Mas é justamente aí que entram as grandes qualidades de Firbank, deixando ao ar diversas provocações (estocadas). Suas personagens são o contraponto do realismo da época, pois são em sua esmagadora maioria, mulheres, artistas e eclesiásticos, sem aquele perfil do homem durão, provedor ou de herói de guerra, aliás os perfis que seguem as personagens é da própria formação de Firbank, muito ligado a mãe e até certo ponto afeminado, Firbank retrata em Imodéstia boa parte do que foi sua vida, contato com obras de arte, peças de teatro, óperas e uma infinidade de artistas.
A obra é sem dúvida cheia de riquezas e tem na Sra. Shamefoot sua estrela principal, é a busca dela que dá razão ao "Vainglory" ao "Imodéstia", pois faz diversas manobras para ver um vitral seu na catedral de Santa Doroteia em Ashringford, claro que a população local não se dá por satisfeita e as rodas de fofocas sobre o assunto estão espalhadas em todos os lugares, chegando a reuniões para debater o assunto. O bispo, Dr. Pantry, local até cede aos desejoso da Sra. Shamefoot, mas ela não quer um arco ou abóboda da Igreja, ela quer algo colossal. Outras pessoas até deixam a sugestão para que seja em outro lugar Catedral, mas o ego e desejo da Sra. Shamefoot prevalecem. Um raio destrói grande parte da Catedral Santa Doroteia, facilitando assim o grande desejo da Sra. Shamefoot, um grande Vitral.
O pano de fundo é a história da Sra. Henedge e Winsome Brooks, este um pianista que não decola e quem tem na Sra. Henedge uma tutora que busca alçar a fama Winsome em grandes óperas ou locais famosos, mas Winsome sempre está em um eterno preparo. Na verdade, o detalhe marcante em Winsome é subentender um relacionamento um possível relacionamento homossexual com seu colega, pois é notável na obra de Firbank deixar um contraponto as posições da época.
Só para deixar o exemplo só de uma estocada (cutucada) usada diversas pelo autor: Quando usa uma de suas personagens diz que russos usam rubis e esmeraldas ao mesmo tempo, ele quer dizer o quão deselegantes os russos são. A maioria das estocadas na obra são em relação a própria sociedade inglesa.
Em resumo é isso, uma grande obra, valor histórico grandioso e de um modelo de diálogos que exige uma atenção redobrada do leitor, sem dúvida um retrato da vida do próprio Ronald Firbank