Thiago 15/01/2022
Ótimo ritmo e péssima edição
O livro apresenta uma ênfase no assassinato de Júlio César, traçando um arco entre as situações que o motivaram, a origem sumária dos maiores interessados, o desenrolar da trama e seus desdobramentos. Ele termina narrando, também de forma bem simplificada, os efeitos da guerra civil entre Marco Antônio e Augusto.
A obra apresenta um ritmo excelente e uma consulta a diversas fontes, tanto antigas quanto contemporâneas, fazendo, por diversas vezes, comparações com a versão de Shakespeare do evento, mostrando onde a adaptação foi fidedigna, onde foi exagerada e onde foi completamente equivocada, o que agrega riqueza ao livro, uma vez que a peça é responsável por várias ideias arraigadas no imaginário popular sobre o fato ("Até tu, Brutus?"). Ao considerar a versão antiga de Nicolau de Damasco, também faz jus a personagens e situações esquecidas por outros autores, especialmente a importância de Décimo Bruto como o verdadeiro traidor e um grande general (curiosamente, o jogo de videogame Shadow of Rome mostra exatamente isso, revelando acurada pesquisa histórica). No entanto, algumas características da escrita incomodam. Algumas, não se pode saber se são do texto original ou do tradutor, como a quantidade excessiva em que é repetida uma explicação de um termo ("Mediolanum, a moderna Milão") ou nome latinizado. Contribuiria mais ao ritmo e à fluidez da leitura (e insultaria menos a memória dos leitores) colocar uma lista de topônimos no início do livro ou inserir notas de rodapé na primeira vez em que fossem mencionadas. Também o uso absurdo de aspas para indicar expressões em linguagem muito coloquial. É compreensível e louvável que o autor faça um livro de História numa linguagem acessível para o público comum, mas o excesso de coloquialismo atrapalha.
Quanto ao trabalho de tradução (e revisão), é extremamente negativo. O livro apresenta inúmeros erros, sendo os mais frequentes de regência verbal, que, em certos modos, dificultam até mesmo a leitura e a compreensão. O tradutor também usou de certas liberdades no texto que incomodam. Uma delas foi inserir um termo em francês numa carta de Cícero em que o original usava o grego. Uma boa saída, mas um excesso. Poderia ter deixado em grego ou traduzido de cara, sempre com uma explicação via nota de rodapé. E, se a ideia era adaptar para uma língua global, poderia ser usado o inglês... Outra foi colocar no corpo do texto a tradução brasileira de um título de filme. Quantas adaptações e mudanças mais nesse sentido ele pode ter feito no texto?
A edição também deixa a desejar, havendo erros como palavras dobradas, faltando e digitadas incorretamente. Destaco que, logo no primeiro parágrafo, a idade de Cesar ao ser morto está grafada de modo incorreto mesmo sendo informado seu ano de nascimento duas linhas antes.
Em síntese, o livro vale a pena por suas informações e seu ritmo emocionante, sendo indicado para todos, de curiosos sobre o assunto a aficionados, mas poderia ter sido muito melhor...