Autora Nadja Moreno 30/07/2017
Mais uma grande obra do autor Décio Gomes
Como leitora das obras de Décio Gomes, me senti grata quando tive a oportunidade de conhecer sua mais recente publicação – Oito, uma coletânea de contos que retratam sentimentos, dores, sensações. E é claro que a obra não deixou a desejar. A ideia era publicar somente as “primeiras impressões” mas o fato é que fui obrigada a ler a obra toda! Não deu para ler somente um ou outro conto. Vamos a eles:
Marco, Polo.
Me deu um calafrio ao notar a temática deste conto, porque no dia anterior à leitura eu tinha assistido um filme que a brincadeira “Marco, Polo” havia sido usada em dado momento da história fazendo com que a brincadeira soasse a mim como algo mórbido. Imagine a sensação ao me deparar novamente com a brincadeira, com a visão de Décio Gomes, que tem um dom mais que especial com o terror e o suspense? Bom, só posso dizer que amantes do “gênero calafrio” não podem deixar de ler. (O jogo – uma das formas de se jogar ‘Marco, Polo’ é na piscina, com um dos participantes vendado e os demais ficam espalhados na piscina, respondendo “Polo”, todas as vezes que o vendado grita “Marco”. A ideia é que todos sejam ‘capturados’).
O colecionador de Máscaras.
Sugiro a quem tem fobia de máscaras, que leia com parcimônia este texto. O colecionador não é nada comum, suas máscaras muito menos, vou soar redundante, mas preciso dizer que aqui também calafrios acompanham a leitura. Em dado ponto pode o leitor até desconfiar do que se trata a morbidez da história, mas leia. A coisa pode ser ainda pior do que podemos imaginar.
O Mural das Décadas.
Ai, ai… este conto….
Eu particularmente não sabia que Décio Gomes sabia ser poético também. Para mim, sua linha seria sempre o suspense, terror, mistério. Me enganei completamente. Não sei dizer se me senti tocada por este conto por já estar com os sentimentos à flor da pele por causa dos contos anteriores, se por ter ouvido a música de Marcelo Camelo – Vermelho, no qual o conto é baseado e ter me encantado por ela, ou simplesmente pela singeleza da história, pelo quanto ela é entranhada de sentimentos. Fiquei com os olhos marejados, e na verdade não conseguiria explicar com palavras o motivo. Sentimento. Puro e simples, certamente.
Rio Morto.
Se você ler este conto sem conhecer a sua introdução, pode achá-lo muito clichê. Mas isso só iria corroborar com a interpretação que o autor propôs ao redigir este conto. Aqui ele quer remontar a história de Bram Stoker. Então tem castelo sim, tem mordomo estranho sim, tem escuridão sim, tem cemitério sim, tem caixões sim. E cara, que conto bacana. Aqui não tem calafrio não. Bram Stoker está tão entranhado na mente dos leitores do gênero que o que este conto causa é mais uma saudade dos tempos áureos dos vampiros… adorável. O tanto quanto caixões, sangue e vampiros podem ser.
A Morada da memória.
Amor, vida longa, despedida. Fico imaginando como é doloroso e ao mesmo tempo muito pouco compreensível ao idoso perder seu cônjuge de muitas décadas… Creio eu que a mente deva criar armadilhas, sensações para minimizar a dor que, se registrada em sua totalidade, tornaria-se mortal. Em A morada da memória esta sensação de perda inconcebível é narrada com poesia e carinho.
Estrada 401.
Este conto me lembrou um tanto a série Bates Motel que sigo e adoro. Estrada deserta, hospedagem no meio do nada, dono nada convencional. Aqui o arrepio volta e apaga toda e qualquer sensação de serenidade causada pelos contos anteriores. O final surpreende, ainda que vislumbres do que aconteceria possam ser notados aqui e ali. Não leia comendo, principalmente se for um hambúrguer. E guarde esta máxima consigo: “Hóspedes educados não devem bisbilhotar”.
As almas dos enforcados.
Gente, Padre Jullian!!!! Que grata surpresa tive ao me deparar com ele neste conto (Padre Jullian é o personagem central da série In nomine Patris, além de participação na série As crônicas Ridell, ambas de Décio Gomes). Quando se trata de almas, não sabemos o que é verdade e o que é mentira no universo das crenças e crendices que todos carregamos, em maior ou menor intensidade… porém uma coisa é certa: sempre pagamos pelos nossos atos. Aqui Padre Jullian está, de novo, diante de algo a ser solucionado.
Eterna.
Eterna é um conto de ficção científica (eita autor eclético!), com nuances de romance e até de um certo suspense. Quando se trata de IAs, sempre há o temor acerca dos limites. Até onde podem ser perfeitos? A perfeição, no caso de inteligências artificiais, trariam o bem ou o mal à humanidade? Eterna levanta a questão destes limites.
Enfim, todos os contos são muito bem escritos, envolventes e geram no leitor a imaginação, a viagem, as sensações. Em meu ver, livro nenhum é bom se não despertar estes sentimentos no leitor. Décio Gomes se mantém, com louvor, em minha seleta lista de autores preferidos. Oito é uma coletânea que merece ser lida!
site: http://oliterario.com.br/resenha-oito-de-decio-gomes/