Matheus Sousa 04/01/2024
OLHOS DE HORROR, O HORROR!
?Esteja certo de que esses vultos bizarros não podem nada contra você; é a crença em seus poderes hostis que pode te fazer algo ruim.?
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Em ?O Homem da Areia?, conto de E.T.A Hoffmann, acompanhamos o protagonista descobrindo e enfrentado, já adulto, a escalada de seus traumas infantis. A obra serviu de inspiração para Freud e outros psicanalistas desenvolverem suas primeiras reflexões sobre os efeitos do inconsciente nas diferentes fases da vida.
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O tom é tenebroso, há horror em cada página. Em todos os personagens, somos abalados de alguma forma por seus olhares vazios, pelos seus corpos deformados (grandes demais, pequenos demais, cadavéricos, cinzentos, rostos macilentos e sem cor ou forma), pelas mentes doentes e sentimentos moribundos (quase todos os personagens oscilam entre a frigidez e a alegria estúpida). Toda a trama conspira para um fim que não chega nem mesmo com a morte. Mais forte que a morte é a memória; e o esquecimento, a única cura capaz de tirar o protagonista de um loop autodestrutivo que ele se coloca desde um misterioso reencontro com um vendedor de barômetros, inexiste neste universo no qual persistem as marcas sangrentas e invisíveis da mente
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O conto aposta na construção da narrativa por meio de dualidades, mas não chega a um maniqueísmo bem/mal, não simplifica o complexo e nem abstrai desnecessariamente o simples (sim, há coisa simples, como um relacionamento amoro óbvio se sem sal que precisa ser isso mesmo, óbvio e sem sal).
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Os pontos negativos: a história passa rápido demais (mesmo para um conto) e a ?motivação? por trás de alguns atos do protagonista e dos demais personagens- sua noiva e seu melhor amigo - parece pouco crível. Mas talvez seja justamente essa colunata surrealista que Hoffmann pretende derrubar na cabeça do leitor para que, aturdido, possa perceber os sinais da loucura que se avizinha de todos àqueles que criam uma barragem de contenção para seus próprios pensamentos e que uma hora ou outra submergirão