Evy 16/05/2018
A Essência das Coisas Esperadas.
Ler um livro da Lucy Maud significa abandonar a realidade envolta de si e mergulhar em um mundo próprio à espera de capturar o coração de um leitor com uma determinada coisa: harmonia.
Há harmonia na escrita da Lucy, nos desenvolvimentos de suas histórias, nas atitudes de seus personagens tão ricamente detalhados, nas construções de mundos que há por entre as páginas de seus livros. Estar diante de um livro da Lucy Maud significa ter a certeza de embarcar em uma leitura que só trará contentamento.
A essência do que eu esperava em Anne de Avonlea se resumia em uma palavra: sentir.
Sentir A Avonlea, sentir a vivacidade dos personagens, sentir a leveza especial que permeia a forma que a Lucy se expressa.
E Anne de Avonlea, como esperava, cumpriu com meus anseios.
Em Anne de Avonlea voltamos a encontrar a Anne, uma Anne chegando ao início da fase adulta desta vez, com novos desafios, novas “almas gêmeas”, novas metas, novas responsabilidades, misturados com o seu, já conhecido em Anne de Green Gables, jeito de ser tão cativante.
“’Sabe o que penso sobre a lua nova, professora? Acho que é um barquinho dourado cheio de sonhos.’
‘E quando toca em uma nuvem, alguns dos sonhos se desprendem e caem em nossas mentes quando dormimos.’”
Revemos e somos apresentados a novos personagens, dentre eles destaco Davy Keith. Ah como esse garotinho me rendeu boas gargalhadas!
E gargalhadas é algo que sobra nesse livro. 50% do livro passei rindo e nos outros 50% passei com um enorme sorrisão de alegria suave no rosto. Aquela alegria que só nos alcança quando estamos nos sentindo leves e em paz com o mundo, normamelmente estimulada pelo contentamento de estarmos apreciando grandemente algo.
E como não falar sobre o maravilhoso Gilbert! Ele aparece muito pouco para minha satisfação completa, mas todas as vezes que este moço dava o ar de sua graça... o “aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah” involuntário saía. É inevitável atualizar as definições de rapaz ideal depois de conhecer Gilbert Blythe.
“Se pedissem a Gilbert para descrever sua mulher ideal, a resposta teria correspondido ponto por ponto com Anne, inclusive aquelas sete sardas pequeninas, cuja presença insolente ainda mortificavam a alma da moça. Gilbert era ainda pouco mais que um menino. Mas um menino tem seus sonhos, assim como os outros, e no futuro de Gilbert havia sempre uma jovem com grandes e límpidos olhos cinzentos, e um semblante tão fino e delicado quanto uma flor.”
Momentos dignos de reflexão e verdades que não se deixam passar despercebidas também nos visitam nesse livro:
“[...] Mas Anne, um coração partido na vida real não é tão terrível quanto nos livros. Parece muito com um dente cariado... apesar de essa não ser uma comparação muito romântica. Tem períodos de dor que não a deixam dormir de vez em quando, mas, nos intervalos entre uma dor e outra, permite que você desfrute a vida, os sonhos, os escos e um doce de amendoim, como se não houvesse problema algum. [...] Isso é o pior - ou o melhor - da vida real, Anne. Ela não vai deixar que você seja infeliz. A vida continua tentando fazê-la se conformar... e com sucesso... mesmo quando você está determinada a ser infeliz e romântica.”
Segundas chances, florescimento da maturidade, a presença da compreensão de que “Neste mundo, temos que esperar pelo melhor, nos preparar para o pior, e aceitar o que Deus envia”, a vivacidade do reconhecimento que a vida se torna “... muito diferente se você a observa através da poesia”... são elementos que fazem de Anne de Avonlea um dos “... pequenos e simples prazeres, suaves e sucessivamente, como pérolas soltando-se de um colar”.
Quote favorito:
“Talvez, afinal, o romance não chegasse na vida de alguém com toda a pompa e majestade, como um alegre cavaleiro andante. Talvez chegasse silenciosamente ao nosso lado como um velho amigo. Talvez se revelasse em aparência de prosa, até que uma súbita flecha de iluminação fosse lançada em suas páginas e traísse o ritmo e a música. Talvez... talvez... o amor nascesse naturalmente de uma bonita amizade, como a rosa de miolo dourado surgia de dentro das sépalas verdes.”