Jaguatirica 30/06/2023
"A sua vida, menina, não pode ser só sua"
E como diz o título dessa pequena "resenha", Maria-Nova, representando fortemente a própria Conceição Evaristo, sobrevive e guarda dentro de si muitas outras vidas além da própria. Ela deseja ver tudo e se recusa a fechar os olhos. Está sempre em busca de ouvir histórias dos mais velhos, saber de seus sofrimentos mais agudos, sentir a ferida aberta através da escuta empática. E dentro de si a menina narradora desse conjunto de contos nutre o desejo de eternizar o que ouviu, viu e aprendeu. Decide fazer isso através da escrita, pois escrever é, também, fazer justiça.
"Era bonita Vó Rita! Tinha voz de trovão. Era como uma tempestade suave. Vó Rita tinha rios de amor, chuvas e ventos de bondade dentro do peito."
"Maria-Nova crescia. Olhava o pôr do sol. Maria-Nova lia. Às vezes, vinha uma aflição, ela chorava, angustiava-se tanto! Queria saber o que era a vida. Queria saber o que havia atrás, dentro, fora de cada barraco, de cada pessoa."
Todos aqueles que morreram sem se realizar, todos os negros escravizados de ontem, os supostamente livres de hoje, se libertam na vida de cada um de nós, que consegue viver, que consegue se realizar. A sua vida, menina, não pode ser só sua. Muitos vão se libertar, vão se realizar por meio de você. (...)
A sua vida, menina, não pode ser só sua."
QUE LIVRO!