Cynthia 05/06/2012Amante Sombrio - J. R. WardA essa altura da vida, os livros da séria "Irmandade da Adaga Negra" não me chamariam mais a atenção, mas depois de ouvir tantos comentários, tantos/as fãs e tantas resenhas positivas, não custa conferir também (sem contar que o preço na Bienal estava super em conta). É difícil não ter a curiosidade atiçada por uma sinopse tão atraente. Mas, ainda sim, tenho dificuldades para pensar em um livro de vampiros que consiga chegar perto do que seria "A máscara" ou Anne Rice. E não sem razão, porque de fato é difícil. A visão romantizada dos vampiros desde então tem se tornado a principal fonte de inspiração para as releituras em couro e rock'n roll de Lestat, o que não é diferente no primeiro livro da Irmandade da Adaga Negra. Apesar de mal encarados e possuírem grande porte, a autora não conseguiu se desfazer de muitos clichês dos vampiros de alta sociedade em livros de jovens adultos.
Em um mundo em que os vampiros estão em número reduzido ameaçados pela sociedade de Redutores, resta a um grupo de elite que forma a Irmandade da Adaga Negra proteger a raça e reerguer sua existência. Liderados principalmente pro Wrath, vampiro de linhagem mais nobre e sucessor do trono, a Irmandade se divide entre lutas com adagas e refúgios da luz do sol. Após a morte de um de seus mais leais irmãos, Wrath se sente responsável por proteger a filha de Darius, a jornalista mestiça Beth Randall, durante sua transição. No entanto, vários obstáculos se colocam a sua frente, como o intrometido Butch O'Neal, policial mal-encarado que usa da força para fazer seus interrogatórios, e os redutores de Caldwell, liderados pelo Sr. X.
Se for para procurar uma metáfora para o livro, fico em dúvida entre um filme repetido de sessão da tarde ou as madrugadas do "sbt" quando cai a internet: você assiste porque já está ali mesmo e não tem nada melhor para fazer. Espero que os/as fãs da série não me crucifiquem por isso, mas, além de extremamente previsível, não considero um livro bom. Como já disse, o livro é cercado de clichês, as personagens não são tão bem desenvolvidas quanto eu esperava e, volta e meia, me sentia como se algumas informações estivessem desencontradas. Ainda sim, posso dizer que é um livro bem escrito - com início, meio e fim -, mas não prende a atenção. A menos que você goste de histórias para adolescentes recheadas de personagens galãs e estereótipos de bad-boy, não espere muita coisa.
Além de todas as explicações sobre a história dos vampiros e o enredo específico da transição de Beth e seu relacionamento com Wrath, "Amante Sombrio" é praticamente um crepúsculo pornográfico. O que, tirando a alusão a Crepúsculo, não é um ponto tão negativo, já que as cenas de sexo eram o que me faziam ainda ter alguma vontade de ler e manter a curiosidade para chegar até o final. Ainda sim, me perguntei várias vezes sobre a necessidade de se colocar classificação indicativa claramente nos livros. Claro que não acho que deva existir uma censura no meio literário, mas algumas descrições de sexo explícito me deixaram perplexa ao imaginar meninas de 14 anos se deliciando nas descrições de orgasmos. E não sei se a própria tradução também dificulta o entendimento, mas um dos pontos que mais me estranhou foi o uso excessivo de termos como "fêmea" e "macho", além de achar o livro extremamente machista, apesar da citação colocada (isso que foi o único trecho que conseguiu me agradar em todo o livro). Mesmo Beth, que deveria ser a mulher forte da história, fica apagada diante das ações e imposições dos "machos". Todas as personagens mulheres, de uma forma ou de outra, revelam uma certa submissão. Às vezes eu tento manter meu lado feminista um pouco mais tranquilo para tentar não achar misoginia em tudo o que vejo ou leio, mas no caso desse livro, foi bem difícil. Não creio que tenha sido intenção da autora, mas com certeza me decepcionei muito com ela nessa parte.
Com certeza eu leria os livros restantes. Não por ter gostado, apenas por ser curiosa demais para querer saber se os outros livros mostram uma evolução da autora no desenvolvimento das histórias e suas descrições, ou se eles também são tão sem sal quanto o primeiro.
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