Maria - Blog Pétalas de Liberdade 16/05/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade "Onde quer que decidamos morar, onde quer que construamos nossas cidades, pessoas como eu ganham essas placas amarelas que abrem os postos de controle. Todas as outras pessoas que vivem ao nosso redor só poderiam conseguir placas brancas. Com esse retângulo amarelo em seu carro, o Exército é seu amigo e você pode andar livremente. Com um retângulo branco, o Muro, o arame farpado, os soldados, as torres de observação, as armas têm um significado totalmente diferente." (página111)
O narrador e protagonista é Joshua, um garoto de treze anos. Ele não se entendia muito bem com Liev, o seu padastro, sentia muito a falta do pai que morreu há cinco anos. Depois do falecimento do pai, sua mãe se casou novamente e Joshua teve que se mudar do litoral para Amarias, uma cidade nova, onde todas as casas eram planejadas, as ruas eram limpas e iluminadas, mas a cidade era cercada por um muro. Do outro lado desse muro, havia outra cidade, mais antiga, com pessoas que falavam outro idioma.
Quem estava do mesmo lado do muro que Joshua, podia passar livremente pelo posto de controle do exército e ir para outras cidades, quem estava do lado de lá, tinha que ter autorizações e muitas outras burocracias.
Certo dia, a bola de futebol do Joshua caiu num terreno cercado por tapumes, e para recuperá-la, ele escalou essa cerca, e acabou descobrindo um túnel que o levaria para o outro lado. Lá, do outro lado do muro, apesar de ter se encantado com o que via, Joshua se meteu numa encrenca e só saiu vivo com a ajuda de uma menina, Leila. A partir daí, sentindo que devia sua vida àquela menina, Joshua não mediria esforços para ajudá-la, mesmo que isso causasse mais desentendimentos com seu padastro.
"-É que um amigo do outro lado do Muro pode ajudar.
- Como?
- Porque você é livre. Pode conseguir coisas quando precisa delas. Pode ir aonde quiser. Ninguém bloqueia suas ruas ou fecha suas lojas, ou levam você no meio da noite." (página 148)
A cidade de Amarias com um posto de controle, o exército e um muro separando-a de outra cidade mais antiga foi inspirada no conflito entre israelenses e palestinos, esse fato só foi mencionado numa nota no final da obra, e confesso que se tivesse sido citado no início teria me ajudado bastante a entender logo de cara onde a trama se passava. Por ter referências à livros com a temática da Segunda Guerra Mundial na capa, acabei me confundindo inicialmente.
"Cada músculo e tendão do meu corpo parecem esmorecer enquanto sinto toda a confiança escorrer de dentro de mim. Meu plano repentinamente parece estúpido, precipitado, letal. Mas cheguei até aqui. Não posso simplesmente largar tudo e sair correndo. Não agora." (página 134)
Dei cinco estrelas para o livro no Skoob, pois me vi presa à história de tal forma, que eu não tinha vontade de parar de ler, de tão curiosa que estava para saber o que aconteceria com o Joshua. Ele, no começo do livro, é um moleque com sede de aventuras, sem muita noção do perigo, mas algo que é muito legal na obra é ver como ele vai mudando e amadurecendo no decorrer dos capítulos.
"As pessoas ficam histéricas sobre o que há do outro lado, mas os adultos não conseguem não exagerar. Estão sempre tentando fazer você acreditar que um cigarro vai matá-lo, que atravessar a rua é tão mortal quanto fazer malabarismo com facas, que andar de bicicleta sem capacete é praticamente suicídio, e nada disso é verdade. Quão perigoso poderia realmente ser passar lá e dar uma rápida espiada? E quão frustrado vou me sentir amanhã se voltar à superfície agora e for para casa?" (página 24)
O Joshua me irritou um pouco ao dizer que a mãe, por ser dona de casa, não fazia nada o dia inteiro. E no início eu nem achava que o padrasto dele era ruim, mas depois que algumas coisas aconteceram, ficou bem claro o quanto o cara fazia mal para a esposa e o enteado.
"-Você ainda não entende o motivo disso tudo? Quanto tempo esperamos? Não consegue ver que, finalmente, depois de todo esse tempo, estamos vencendo! Aos poucos, estamos vencendo! E, se isso levar outros mil anos, e tivermos que lutar por cada centímetro de terra, então que seja assim.
- Você não pode lutar por mil anos. Estará morto.
- A próxima geração seguirá com a luta.
- Eu sou a próxima geração. E acho que você é louco." (página 222)
Como já mencionei, o protagonista passou a se arriscar cada vez mais para retribuir a ajuda que teve, e era desesperador ler as cenas onde ele poderia ser morto num buraco embaixo da terra, me dava um sentimento de pânico, de claustrofobia enquanto eu lia. Era desesperador também ver como, muitas vezes, por melhor que fosse a intenção dele, seus planos acabavam trazendo consequências negativas que ele não imaginava, afinal, era só um garoto de treze anos, como poderia ser mais esperto do que um exército inteiro?
"Só quis fazer uma simples coisa boa. Apenas quis dar à menina o que lhe devia. Mas aqui, isso era impossível, perigoso, estúpido." (página 158)
Na parte quatro (a obra tem cinco partes ao todo), o Joshua faz uma coisa que muitas vezes eu desejei que os personagens fizessem quando estão em uma situação extrema, ele decide seguir por conta própria, e ver finalmente um personagem fazendo isso me agradou bastante. Outra coisa que me agradou, foi como o Joshua, em momento algum, viu as pessoas do outro lado do muro como inimigas, ele não comprou uma guerra que não era a dele, não colocou "todos no mesmo saco". E mesmo com o que aconteceu no final, e já lhes garanto que o William Sutcliffe não amenizou algumas coisas, o personagem não se revoltou e nem se rendeu.
"Com essa percepção, imediatamente me sinto renovado, fortalecido, abençoado, sabendo que, ainda que passe minha vida inteira fracassando, estarei fracassando tentando fazer algo no qual acredito; estarei totalmente vivo e serei totalmente eu mesmo. Se a alternativa é não fazer nada, não há de fato alternativa." (página 332)
Sobre a edição: eu gostei da capa, tem elementos que remetem à trama, as páginas são amareladas, a revisão está boa, as margens, letras e o espaçamento tem um tamanho bom.
"O Muro" foi um livro que eu gostei muito e que recomendo. Uma leitura fluida e que prende o leitor, com personagens cativantes e corajosos, como Joshua, Leila e sua família. Uma obra sobre crescer numa zona de conflito em meio à uma disputa territorial e, ainda assim, ver seus semelhantes como mais do que querem que você veja, uma obra sobre esperança. Para quem quiser ler mais sobre o tema abordado por William Sutcliffe, recomendo também o livro "Uma garrafa no Mar de Gaza" da Valérie Zenatti.
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