Naiana 05/07/2022
O quão profundo pode ser um livro infanto-juvenil?
Não vou me repetir sobre a fórmula do livro, nem o quão fácil é a sua leitura, já estamos no nono livro da série e já falei sobre isso inúmeras vezes.
Então resolvi falar sobre o que me marcou neste livro. Primeiro, como sempre, as referências ocultas que adoro encontrar. Segundo o quanto de reflexão ele traz sobre a vida, sobre os nossos comportamentos, sobre o comportamento de turba que tanto temos visto no mundo atual e no nosso país e a necessidade e satisfação que muitos têm em ver a desgraça e o sofrimento alheio, a violência gratuita.
Críticas ao comportamento da sociedade temos aos montes por aqui, basta abrir os olhos e ver além das palavras, o que é mera fantasia e onde ela se encontra com a nossa realidade.
Outro ponto bem forte trabalhado nesse livro e que já vem desde o anterior é: O que define ser um vilão?
Os irmãos Baudelaire se vêm na situação de muitas vezes usarem dos artifícios do conde Olaf para sobreviver, estão sozinhos, sem quem os oriente e ajude, apenas com sua bússola moral para lhes guiar e é o que os salvam muitas vezes de se tornarem vilões de fato, mas até que ponto os fins justificam os meios? Até que ponto nossa consciência nos perdoa pelo que fizemos aos outros, a mentira dita e o ato cometido? Até que ponto também somos capazes de perdoar o que nos fizeram? A trama se torna mais complexas e se pararmos para analisar, se não sentíssemos a empatia pré-estabelecida pelos Baudelaire será que não o julgaríamos vilões como o conde Olaf?
Essas são algumas perguntas soltas na atmosfera do livro e é possível que hajam muito mais que talvez uma segunda ou terceira leitura da obra nos mostre e que se passaram à primeira, principalmente se o livro for lido na infância. E aí está mais uma vez o ponto que o torna um livro tão gostoso de ler independente da idade em que temos, sendo criança a experiência será uma e na fase adulta há muitas percepções ocultas na narrativa, aqueles ensinamentos que você adquire sem perceber quando criança em uma obra muito bem escrita.
Falando um pouquinho sobreo livro, nesse volume o mistério que envolve a vida dos Baudelaire após a morte de seus pais começam a ser esclarecidos aos poucos, ainda falta muito para entender direito o que é C.S.C. e muito mais dúvidas surgem à volta dos Baudelaire. O final é daqueles que nos deixa ansiosos em saber o que vem a seguir e novos personagens aparecem aos montes, personagens que aparentemente vão permanecer na história por mais tempo que apenas esse volume.
Ah, já ia esquecendo de outro ponto de reflexão inserido na trama, o que define uma aberração? O que nos torna diferentes das outras pessoas? Uma corcunda? Tem duas cabeças? Fazer movimentos estranhos com o corpo? Ser ambidestro? Ganchos nas mão, rosto cheio de feridas? Será que há diferenças de fato ou essas diferenças estão nos olhos de quem vê? No julgamento antes de conhecer? E acima de tudo, o que a baixo autoestima e o medo podem fazer com as pessoas? Até onde essas pessoas podem ir para se sentirem aceitas? Se sentirem parte de um grupo, comunidade?
Ponto passível de SPOILER:
A série até então permanece com a trupe de Olaf contendo os mesmos personagens, mas vemos no livro o quão mesquinho ele de fato é, abandonando alguns à própria sorte e pouco se importando de fato com eles. O Olaf da série chega a ser bonzinho perto do Olaf do livro, que enxerga de fato as pessoas a sua volta como recursos, descartáveis e substituíveis.