O Mundo Invisível Entre Nós

O Mundo Invisível Entre Nós Caitlín R. Kiernan




Resenhas - O Mundo Invisível Entre Nós


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Laura Brand 22/03/2020

Nostalgia Cinza
Estou caminhando por um corredor, como em um daqueles episódios recorrentes em séries de fantasia. É um corredor extenso, escuro, sombrio, com dezenas de portas vermelhas, com cor de sangue, todas fechadas. Posso ouvir os mais diversos sons, abafados, escapando pelas frestas de cada uma dessas portas. Alguns são vozes, outros gritos, múrmuros, risadas, outros são indecifráveis. Algumas portas guardam até mesmo o silêncio. E não sei qual delas me intriga mais. Me atrevo a abrir uma, consigo ter um vislumbre do mundo que ela esconde, daquilo que ela guarda. Mas só posso ficar por alguns momentos antes de ser empurrada para fora e obrigada a seguir em frente. Então abro outra porta. E mais uma. E mais outra. E outra. E cada uma delas me apresenta um arrepio diferente.
Essa é a melhor descrição que posso fazer da experiência de ler O Mundo Invisível Entre Nós. Com contos de cerca de 20 páginas, essa coletânea é um achado para fãs do sobrenatural e da literatura dark. Enquanto Criaturas Estranhas é um belo retrato de como as histórias de seres supernaturais permeiam a própria história da humanidade, O Mundo Invisível Entre Nós é um exemplo de como todos esses seres fantásticos se encaixam na ficção.
A todo momento eu esperava um ponto em que todas as histórias de conectassem, mas isso nunca aconteceu de forma explícita. Entretanto, a cada conto, era como se eu tivesse a certeza de que estava tendo acesso a portas para varias realidades, todas parte de um mesmo mundo. Não só pela escrita bem característica de Caitlin, mas por toda a atmosfera criada a cada conto, a autora nos transporta para perto de fragmentos de histórias diferentes, todas parte de um mundo não mais tão invisível.
Os contos tratam de assuntos bem variados e, por mais que a atmosfera possa parecer semelhante, cada um carrega uma narrativa com características ímpares. É um livro com uma riqueza de elementos sobrenaturais, sendo possível perceber alguns padrões nas criaturas e mitos escolhidos, como os ghouls, por exemplo. Essas criaturas mórbidas estão presentes em grande parte dos contos da autora e é interessante notar, em uma coletânea assim, alguns gostos e preferências de Caitlin R. Kiernan na hora de escolher seus personagens, enredos e histórias.

CONFIRA O RESTANTE DA RESENHA EM:


site: https://www.nostalgiacinza.com.br/2020/03/resenha-o-mundo-invisivel-entre-nos.html
Bah 16/08/2021minha estante
É EXATAMENTE ISSO QUE EU SINTO COM ESSES CONTOS.
É como se você estivesse olhando momentos no universo da Kiernan em uma televisão, vc não tem o controle e a TV muda de canal quando bem entende.


Debora.Felix 19/09/2022minha estante
É muito isso... no começo vc não entende muito, aí quando começa a fazer sentido acabou o conto. É uma TV desgovernada, alternando entre os canais...




Coruja 05/03/2020

Sabe quando você se apaixona por uma capa sem nem olhar a sinopse? Ou quando um título fica ecoando na sua cabeça e você fica imaginando a história por trás dele? Ou quando um autor te conquista de tal forma que o nome dele faz o dedo coçar antes mesmo do bendito entrar em pré-venda? Tudo isso me aconteceu quando dei de cara com O Mundo Invisível entre Nós, da Caitlín Kiernan e não hesitei em colocá-lo na lista de desejos.

A Menina Submersa foi um romance que me surpreendeu muito e, embora eu não seja uma grande fã de fluxo de consciência como ferramenta narrativa, o estilo, a voz da Kiernan me impactaram profundamente. O Mundo Invisível entre Nós, que reúne contos publicados entre 1993 e 2004, permite observar a evolução desse estilo, como Kiernan foi consolidando sua maneira de escrever e ver o mundo, além de estudar os temas que aparecem de forma constante em seu trabalho. De um ponto de vista crítico, uma antologia como essa é puro ouro, porque você tem a chance de enxergar esse desenvolvimento de uma forma linear e tudo num lugar só.

E o progresso é claro. Os contos da primeira parte (93 a 99) são interessantes, mas muitas vezes terminam de forma abrupta e te deixam atarantado. Alguns parecem ter sido escritos mais pelo desejo de chocar que para contar uma história, sendo claramente experimentais. Os da segunda (2000 a 2004), por outro lado, são excelentes - mais longos, melhor finalizados, com enredos definidos.

Se tivesse de escolher uma única palavra para definir essa coletânea, eu diria… perturbadora. Kiernan traz à tona o pior da humanidade em muitas dessas histórias: mesquinhez, falta de empatia, abuso, vingança, abandono, preconceito. Seus protagonistas muitas vezes vivem às margens da sociedade: imigrantes, viciados, prostitutas, artistas, visionários e loucos de toda espécie. Ao mesmo tempo, ela tem uma incrível capacidade de tornar a decadência com que pinta muitos de seus cenários em algo delirantemente belo.

Kiernan bebe de muitas fontes e é interessante que cada história é acompanhada de um frontispício com uma curta nota sua explicando algo da inspiração por trás do enredo. Folclore eslavo, personagens de clássicos, uma inteira série de contos com clara referência lovecraftiana, anjos, rusalkas, zumbis, bruxas canibais, sereias, casas assombradas… ela consegue se apropriar muito bem de suas referências e dar sua forma a elas. O fantástico e o não tão fantástico convivem juntos de forma tão prosaica que ela consegue torcer as coisas no final para que se tornem estranhas. E o estranho, o surreal, têm lugar de destaque em seus mundos.

Mais que isso, ler seus contos tem algo de sinestésico. Ela te faz sentir os cheiros, sabores, cores, o pulso de seus personagens. Tira seu fôlego, deixa suas pernas bambas, estômago embrulhado. Você se sente tragado pelas águas da enchente, pelas noites de tempestade, pelo vento parado e sol escaldante. Esse é o tipo de livro ao qual é difícil ficar indiferente: repulsa ou sedução, mas não passividade.

Por fim, gostaria de dizer que, mais uma vez, a Darkside me fez ficar de queixo caído com a beleza de suas edições. Da capa - que captura muito bem a beleza sinistra dos contos - à guarda, aos frontispícios com desenhos anatômicos de insetos que parecem imagens de pesadelo, às ilustrações que aparecem no começo e fim do livro, e o corte dourado das páginas, tudo faz de O Mundo Invisível entre Nós uma caixa de jóias. Toda vez me impressiono com o projeto gráfico da editora, mas acho que eles se superaram aqui.

site: https://owlsroof.blogspot.com/2020/03/o-mundo-invisivel-entre-nos-poesia.html
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