pedrolucasmr 31/12/2022
Mesmo a maior das sagas tem seus pontos baixos
O fim do chamado Slog, como é conhecida a extensão dos volumes 7, 8, 9 e 10 de ARdT, é também seu ponto mais baixo. Embora os 4 volumes tenham um ritmo narrativo bem inferior aos 6 primeros volumes da saga, eles não estão realmente em pé de igualdade. Os volumes 7 e 9, apesar de mais lentos, tem acontecimentos interessantes e plotlines bem desenvolvidas. O volume 8 é bastante esquecível e se arrasta bastante, sendo uma leitura um tanto chata. Já o volume 10, infelizmente, é um ponto baixíssimo para a saga.
A narrativa sofre com vários problemas em diferentes escalas, alguns novos, alguns velhos e outros que já existiam antes mas aumentam de tamanho aqui.
Primeiro, vamos olhar os pontos positivos do volume. O POV de Egwene anda bastante nesse livro e o seu papel como uma das protagonistas cresce, fazendo com que realmente nos interessemos pelo desenrolar daquele ponto da história. O POV de Mat continua bastante divertido e interessante, dando sequência aos acontecimentos de Winter's Heart. O desenvolvimento de algumas coisas anda bem e temos algumas boas surpresas sendo introduzidas, embora o desenrolar fique para os próximos volumes. Vemos os protagonistas sendo obrigados a tomar decisões mais díficeis, e é muito natural a forma com a qual o Robert Jordan demonstra que as crianças, que acompanhamos desde o primeiro volume da série, cresceram e se tornaram adultos. Rand, Mat, Perrin e Egwene são excelentes personagens e, mesmo com todos os problemas desse volume, seu desenvolvimento continua sendo contínuo e vísivel, fazendo com que seja fácil nos apegarmos a eles.
Mas as coisas boas param por aí. Os POVs que não levam a lugar algum estão de volta nesse volume e mais cansatvos do que nunca. É entediante ler um capítulo de 15 ou 20 páginas de um personagem secundário de pouca importância para, ao fim, ver que aquilo levou a quase nada e que poderia estar diluído em outro capítulo com alguns poucos parágrafos.
E o tamanho dos capítulos, no geral, é um dos maiores problemas do livro. Capítulos longos, por si só, geralmente são cansativos. Quando metade de cada capítulo parece ser apenas de descrições e acontecimentos inuteis arrastados para cobrir páginas, é ainda mais cansativo. Ler um capítulo de 20 ou 30 páginas onde metade delas se baseia em um personagem indo do ponto A ao ponto B, ou fazendo toda a rotina da manhã, ou tendo diálogos pouco frutíferos apenas para na segunda metade vermos realmente o que há de importante no capítulo é algo extremamente cansativo e, muitas vezes, entendiante. O capítulo final do livro ilustra bem isso, assim como vários dos capítulos do Perrin e quase todo o POV da Elayne.
Falando em POVs, aqui temos alguns dos piores da Saga. O desenrolar da narrativa de Elayne é muito duvidoso, indo para um caminho estranho e sem graça, com pequenas piadas que não funcionam(ao menos pra mim) e que são repetidas inúmeras vezes. O desenvolvimento da personagem, que já é abaixo da média para a Saga nos livros anteriores, fica ainda pior nesse volume e durante a extensão não muito longa dos seus capítulos eu só queria poder ver o POV de qualquer outro personagem. Os capítulos de Perrin não são muito melhores, com uma narrativa arrastada, com poucos acontecimentos e que parece enrolar para não ser concluída nesse volume. Embora nosso querido menino-lobo tenha um excelente capítulo final nesse volume, ter de ver outros vários capítulos enrolados torna o POV dele cansativo e, por vezes, entediante.
A quase ausencia do POV de Rand nesse volume é algo esperado, dado o histórico da série, mas não parece realmente natural. Na verdade, a narrativa como um todo parece bem pouco natural. É como se as plotlines não tivessem sido planejadas para se encerrar nesse volume, mas ao mesmo tempo não fossem extensas o suficiente para alcançar o volume 11. A ausência de grandes acontecimentos para todos os personagens com exceção de Egwene dá a impressão de que não havia história a ser contada aqui. Poucas plotlines são abertas em CoT, os POVs de Mat, Perrin, Egwene e Elayne apenas seguem o que já havia sido iniciado nos últimos volumes, enquanto apenas Egwene concluí realmente alguma coisa.
A sensação final que o décimo volume me passou foi a de uma corda esticada, uma conexão entre o nono e o décimo primeiro volume que não tinha muito a contar e que poderia ter sido dissolvida entre ambos os livros. Eu não acho que seja necessariamente um livro ruim, o mundo e os personagem de ARdT tornam isso algo bem díficil, mas é sem dúvidas o volume mais fraco da série. Uma experiência de leitura que tem seus momentos, mas que no geral é arrastada e entediante. Estou ansioso por começar o Knife of Dreams, próximo volume e primeiro fora do Slog depois de muito tempo. A Roda do Tempo pode não ter começos e fins, mas espero que esse volume seja de fato um fim para essa fase tão inferior da Saga.