Joana Grigorio 29/05/2024
Incômodo
Não gostei da escrita da autora. Pra mim, deixa cansativo escrever os mínimos detalhes das cenas, não abrindo espaço pra imaginação do leitor. Pra agravar minha experiência, a narradora e protagonista era uma mulher de quarenta e poucos anos, nutria uma obsessão pela mãe agora morta. Ela não só revive suas próprias violências da infância, como também, me parece, escolhe passar pelas violências que a mãe passou, hora culpando Amália, hora colando-a como inocente. Uma conduta meio sádica. Durante toda leitura fiquei com angustia, porque pairava um risco eminente de estupro sobre a protagonista. A forma que se relacionava com o próprio corpo, as escolhas de ambiente, a passividade, a sua relação com o sexo. Tinha um rancor profundo pela mãe, mas ao mesmo tempo estava se despindo de sua personalidade para tentar ser ela. A mãe provocativa, feliz, imprudente. Tudo que ela não conseguia ser. Mas se imaginando como Amália, se permitia. Não sentia prazer em nada. Aceitou ser um molde.
Senti pena dela. É muito difícil abandonar algo tão familiar. Mesmo que machuque, a dor era única forma de amor conhecida por ela.