spoiler visualizarmotinhadokaneda 14/08/2020
eu sei como te entediar
Não sei nem como começar a enumerar os problemas desse livro — pq sim, além de ruim e mal escrito, ele é problemático.
"Eu sei onde você está" narra a história de Clarissa, uma mulher recém-divorciada que começa a ser assediada por um colega de trabalho, o Rafe, que a persegue, ameaça e importuna de todas as formas possíveis.
Logo nas primeiras páginas a autora consegue te fazer sentir a repulsa da Clarissa por Rafe. É um bom começo, prende a atenção, mas também é literalmente o único ponto bom do livro, depois tudo desanda de uma vez e precisei de muito esforço e paciência para terminar. A escrita da Claire Kendal é repetitiva, cansativa e pobre (um dicionário de sinônimos resolvia, juro). Ela passou o livro inteiro mudando de primeira pessoa para terceira e não conseguiu fazer isso de um jeito bom, resultando numa narrativa confusa e sem nexo nenhum que expõe também outras falhas: estereótipos preconceituosos, personagens rasos e sem sal e a falta de pesquisa no âmbito jurídico.
Achei engraçado como a Claire sequer se preocupou em esconder certas coisas: o fato da Clarissa frisar o tempo todo que o Rafe era feio e gordo, por exemplo. Tem literalmente uma parte do livro que ela diz "Ele tinha músculos antes, mas agora tem barriga e sua cara se perde em meio ao rosto redondo. É repulsivo." e você poderia pensar que, talvez, isso fosse algo da personagem e não da autora, porém até mesmo na narração em terceira pessoa é possível identificar sentenças do mesmo viés.
A construção de outra personagem, Rowena, foi porca, desleixada e idiota. Ela é a "clássica" mulher que levou um pé na bunda e agora sua personalidade foi reduzida a fazer plásticas e ser superficial. Foi um desserviço tremendo, principalmente pelo fato da autora colocar a Clarissa se sentindo superior à "amiga" o. tempo. inteiro. e reforçando rivalidade feminina quando fez a Rowena parar de falar com ela por causa do Rafe. Para piorar ainda mais, a própria Clarissa é rasa — mesmo sendo a protagonista. O único traço de personalidade da criatura é saber costurar e querer obsessivamente ter um filho (atenção aqui, comentarei mais sobre lá embaixo).
Sobre a questão jurídica, em dado momento do livro a Clarissa vira jurada de um julgamento de outra mulher. Isso só serviu para que o "par romântico", Robert, fosse apresentado e a relação dele e dela fosse desenvolvida, porque o julgamento em si só é narrado poucas vezes — e ainda assim consegue ser feito de maneira defeituosa. Os advogados conduzem as testemunhas (o que não pode), o juíz fala o que pensa o tempo inteiro e sabe de muita coisa da investigação (o que também não pode, já que a base de ser um juíz é a imparcialidade) e a Clarissa fica costurando (???????????) no meio do negócio. Uma pesquisa, cara. Uma simples pequisa de 30 minutos no google e tava tudo certo. Sem contar que tem uma cena de estupro narrada em primeira pessoa completamente desnecessária no meio de tudo.
Voltando ao Robert: desde que apareceu eu sabia o motivo de ele estar ali: salvar a Clarissa como o bom príncipe encantado que é (a Claire Kendal até tentou quebrar o clichê que ela mesma criou e colocou que ele era casado e só queria transar com a Clarissa mas, assim como tudo nesse livro, não funcionou).
O que deveria ser o pico da estória foi, na verdade, uma das partes mais cansativas e de resolução fantasiosa. O Rafe torturou a Clarissa e o Robert magicamente apareceu lá e salvou ela. Rafe morreu. É isso. O final foi bem chato e particularmente não gostei da Clarissa ter engravidado do Robert (que largou ela por causa da mulher). Ela passou o livro inteiro pregando que só seria feliz quando fosse mãe, que estava incompleta e até mesmo culpabilizando e invalidando o ex-marido dela, Henry, por ser impotente, e no final todos os traumas dela (ser estuprada mais de uma vez, torturada, agredida, ameaçada, etc) foram "curados" por um bebê. Horrível.