Marcos606 25/10/2023
A história se passa em Paris no ano de 1819, numa pensão decrépita, suja e malcheirosa na margem esquerda do Sena. Sra. Vauquer, uma velha viúva mesquinha dona do lugar, governa seus inquilinos. São pessoas com recursos e desejos modestos, como Mlle. Michonneau, a solteirona; Poiret, um ser humano parecido com uma marionete; e uma jovem órfã, Victorine Taillefer. Destacam-se três inquilinos: Eugène de Rastignac, um jovem estudante provinciano, de origem nobre, mas pobre e ansioso por tentar a sorte na capital; Vautrin, o homem “forte”, bon vivant e bem-humorado, mas misterioso e alarmante; e Pai Goriot, um comerciante aposentado, que parece sofrer de uma tristeza misteriosa.
Rastignac logo descobre que estranhos acontecimentos estão acontecendo na pensão aparentemente respeitável: o velho Goriot transformando pratos de prata em lingotes, Vautrin retornando furtivamente para casa no meio da noite, apesar das portas trancadas, Goriot sendo visitado por lindas garotas cujas contas ele paga.
Rastignac vai descobrir a solução de um dos mistérios. Perseguindo suas ambições, ele consegue ser introduzido na alta sociedade parisiense com a ajuda de sua influente prima, Mme. de Beauséant. Tudo parece estar funcionando de acordo com seus planos, mas ao mencionar o nome de Goriot, ele se vê excluído do salão da Condessa de Restaud, ponto de encontro da nata da sociedade. Desanimado com sua primeira gafe, ele aprende com a Sra. Beauséant o segredo da vida de Père Goriot. O velho arruinou-se e aceitou uma vida miserável para que suas duas filhas pudessem ser ricas.
O personagem-título é objeto da análise mais profunda de Balzac. Sua paixão irracional é mostrada de maneira poderosa, cuidadosamente explicada, constitui o elemento dramático do romance e progride para um clímax sublimemente trágico.
Balzac mostra-nos cuidadosamente como em Pai Goriot a paixão de um rico comerciante cresceu e o dominou. A partir de então, o velho vive apenas para as filhas, acrescentando sacrifício em sacrifício, sangrando-se do dinheiro e da vida.
Esta estranha paixão combina inextricavelmente dois elementos: animalidade e sublimidade. Vemos ao longo do livro o comportamento animalesco de Goriot em relação às filhas, comportamento muitas vezes comparado ao de um cachorro. Balzac disse dele, em resposta às críticas: “O velho Goriot é como o cachorro de um assassino, que lambe a mão de seu dono quando está suja de sangue; ele não discute, não julga, ele ama”. E, de fato, sua paixão aniquilou todos os outros sentimentos humanos: ele mataria, roubaria e “venderia o Pai, o Filho e o Espírito Santo” para poupar suas filhas. Ao mesmo tempo, Balzac eleva-o a um tipo, a um criador, a uma figura divina, capaz de infinita paixão e abnegação, que culminará no sacrifício final daquele “Cristo da Paternidade”